Erro médico em Manaus: menino de 6 anos morre após aplicação errada de adrenalina
Menino de 6 anos morre após erro médico com adrenalina em Manaus

Um caso trágico de erro médico chocou Manaus e reacendeu o debate sobre segurança em procedimentos hospitalares. Benício, um menino de apenas seis anos, perdeu a vida no Hospital Santa Júlia após uma sucessão de falhas que culminaram na aplicação incorreta de um medicamento.

A Fatalidade: Uma Cadeia de Equívocos

No sábado, 22 de novembro, Benício chegou ao hospital andando, apresentando tosse seca e febre. A suspeita inicial dos pais e da equipe era de laringite. A família passou quase 14 horas na unidade de saúde, um período marcado por decisões equivocadas.

O menino já havia sido tratado no mesmo local por um quadro similar um mês antes, quando recebeu adrenalina por inalação, procedimento padrão para laringite. Desta vez, porém, a médica Juliana Brasil Santos prescreveu adrenalina pura, não diluída, para ser aplicada diretamente na veia, em três doses que totalizavam 9 miligramas. A versão injetável é reservada para emergências graves, como paradas cardiorrespiratórias, e administrada com extremo cuidado em UTIs.

A mãe, Joice Xavier de Carvalho, estranhou ao ver o soro injetável. "Cadê a inalação para adrenalina? Sempre foi por inalação", questionou. A técnica de enfermagem Raíza Bentes, que administrou o medicamento, afirmou nunca ter feito o procedimento pela veia, mas seguiu a prescrição. Minutos após a aplicação, Benício ficou pálido e reclamou de dor no coração, entrando em rápido declínio.

As Consequências e a Investigação

O menino foi levado às pressas para a sala de emergência e, depois de quatro horas, transferido para a UTI. Ele sofreu seis paradas cardíacas e não resistiu. A polícia investiga o caso como homicídio culposo, apontando uma "sucessão de erros" que inclui a falha na dupla checagem da prescrição e a ausência de um farmacêutico para revisar a dosagem.

O delegado Marcelo Martins foi enfático: "Com certeza, um homicídio. A médica simplesmente emitiu uma prescrição médica e não revisou". A defesa da médica alegou uma possível falha no sistema de prescrição eletrônica, que teria trocado a via de administração. No entanto, o superintendente de TI do hospital, João Alexandre de Araújo, garantiu que o sistema não comete erros automatizados sem ação humana.

Responsabilidades e Falhas Estruturais

A técnica de enfermagem, com apenas sete meses de experiência, foi suspensa e afirma ter seguido a prescrição sem auxílio. A médica foi afastada do hospital e obteve um habeas corpus preventivo. O presidente do Conselho Regional de Farmácia do Amazonas, Reginaldo Silva Costa, destacou que a presença de um farmacêutico teria evitado a tragédia, identificando a superdosagem.

O diretor médico do Hospital Santa Júlia, Guilherme Macedo, declarou que a gestão está trabalhando em planos de ação para evitar novas tragédias. Benício, que era filho único, faria sete anos no dia de Natal. Seu pai, Bruno Mello de Freitas, define a perda como uma dor que levará para a vida toda, lembrando do filho como "o ser vivo mais puro que eu já encontrei".

O caso expõe falhas críticas nos protocolos de segurança de um hospital, desde a prescrição até a administração de medicamentos, levantando questões urgentes sobre a necessidade de checagens rígidas e supervisão adequada para proteger vidas.