Durante o Novembro Azul, a conscientização sobre a importância dos exames preventivos ganha destaque na luta contra o câncer de próstata, doença que representa um significativo desafio médico e social no Brasil.
Números que alertam
O câncer de próstata se mantém como a neoplasia maligna mais frequente entre homens brasileiros, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a previsão para o triênio 2023-2025 é de 71.730 novos casos anuais, com uma taxa bruta de 67,86 a cada 100 mil homens.
Esses dados reforçam a urgência da detecção precoce, que pode transformar completamente o prognóstico da doença. Quando diagnosticado em estágios iniciais, o câncer de próstata apresenta até 95% de chances de cura, um número que evidencia como o diagnóstico no momento certo pode salvar vidas.
Barreiras culturais e exames essenciais
Apesar dos avanços médicos, ainda persiste um obstáculo cultural preocupante: muitos homens evitam procurar o médico, sentem receio do exame de toque retal ou minimizam sintomas até que a doença alcance estágios avançados.
A detecção prematura baseia-se principalmente em dois exames complementares:
- Dosagem do PSA: exame que mede o antígeno prostático específico, uma proteína produzida pela próstata que pode se elevar em diversas condições, incluindo o câncer
- Toque retal: permite identificar alterações palpáveis, como nódulos e endurecimentos, que nem sempre aparecem na dosagem sérica
A associação entre ambos os exames é fundamental para aumentar a sensibilidade diagnóstica. Dados do Inca revelam que 59,2% das biópsias realizadas após alterações no PSA ou no toque retal confirmaram câncer, comprovando a utilidade clínica do rastreamento combinado.
Recomendações e avanços médicos
A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) estabelece diretrizes claras para o rastreamento: homens assintomáticos devem iniciar a discussão sobre exames preventivos aos 50 anos, enquanto aqueles com histórico familiar de primeiro grau ou homens negros - grupo considerado mais vulnerável - devem começar aos 45 anos.
Em todos os casos, a decisão deve ser compartilhada entre médico e paciente, considerando cuidadosamente benefícios e riscos, incluindo a possibilidade de sobrediagnóstico e procedimentos desnecessários.
Nos últimos anos, a medicina tem registrado avanços significativos, tornando diagnósticos e tratamentos cada vez mais precisos e menos invasivos. Tecnologias como cirurgia robótica e novas modalidades de radioterapia permitem abordagens mais seguras, com recuperação acelerada e melhor preservação da qualidade de vida dos pacientes.
Além do câncer: cuidado integral
O Novembro Azul cumpre um papel fundamental ao desmistificar tabus e estimular práticas baseadas em evidências. Nenhum exame isolado é perfeito, mas a combinação de PSA e toque retal continua sendo a principal estratégia para reduzir a mortalidade, desde que empregada de forma individualizada e criteriosa.
Esta campanha também amplia o diálogo sobre outras condições masculinas. Além do câncer de próstata, aborda infecções do trato urinário, crescimento benigno da próstata e questões relacionadas à sexualidade. O homem deve enxergar o urologista como aliado na busca por uma vida saudável e duradoura.
Superar barreiras culturais, ampliar o acesso ao rastreamento e investir em informação qualificada são passos essenciais para que mais homens tenham acesso ao diagnóstico precoce. O enfrentamento do câncer de próstata não se limita ao ambiente clínico: é um compromisso social que exige valorização da ciência, responsabilidade e cuidado com a própria saúde.
Dr. Rodrigo Lima é médico-urologista cooperado da Unimed Goiânia e presidente da Sociedade Brasileira de Urologia - Seccional Goiás. CRM-GO 15274.