Uma ação judicial inédita nos Estados Unidos pode mudar o rumo da indústria de alimentos em todo o mundo. A cidade de São Francisco, na Califórnia, entrou com um processo contra algumas das maiores fabricantes de alimentos ultraprocessados do país.
Acusação direta: produtos prejudiciais à saúde
O procurador da cidade, David Chiu, apresentou a ação no dia 18 de dezembro de 2025. A acusação é clara: as empresas produzem e vendem alimentos que causam danos à saúde da população. O processo busca responsabilizar judicialmente os fabricantes pelos custos crescentes que os sistemas de saúde enfrentam devido ao consumo excessivo desses produtos.
"Esses produtos e a dieta americana estão ligados a sérios problemas de saúde, impondo custos enormes a milhões de americanos, cidades e Estados", afirmou Chiu. "Nosso caso trata de empresas que criam alimentos prejudiciais e viciantes, elaborados para maximizar lucros."
O paralelo com a indústria do tabaco
A estratégia da ação faz um paralelo direto com os processos movidos contra a indústria do tabaco. Assim como as empresas de cigarro souberam por décadas dos riscos à saúde, mas ocultaram informações, a ação alega que os fabricantes de ultraprocessados agiram de má-fé.
O consumo desses alimentos é massivo. Dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) mostram que mais da metade das calorias ingeridas pelos americanos vem de ultraprocessados. Entre os jovens, o índice é ainda mais alarmante: 62% das calorias consumidas por esse grupo têm essa origem, contra 53% entre os adultos.
No Brasil, a realidade não é muito diferente. Entre 2020 e 2024, esses produtos representaram quase dois terços de toda a comida embalada consumida no país.
Riscos à saúde e composição problemática
Os alimentos ultraprocessados, frequentemente vendidos em "pacotinhos", são formulados para serem altamente palatáveis. No entanto, eles concentram os grandes vilões da dieta moderna:
- Excesso de açúcar
- Altos teores de sódio
- Uma série de aditivos químicos, como corantes, conservantes e emulsificantes
Estudos científicos quase exaustivos associam o consumo elevado desses itens ao avanço de doenças crônicas, diversos tipos de câncer e outros 32 problemas de saúde, onerando os sistemas públicos e privados.
Reação da indústria e possíveis desdobramentos
Em resposta à ação, uma associação representativa do setor alimentício defendeu os fabricantes. A entidade destacou os esforços recentes da indústria para melhorar o valor nutricional de seus produtos.
Especialistas acreditam que o caso de São Francisco pode ser o primeiro de muitos. Assim como aconteceu com as empresas de cigarro a partir dos anos 1950, uma onda de litígios pode forçar todo o setor a se adequar. A iniciativa tem potencial para inspirar ações judiciais semelhantes em outras cidades dos Estados Unidos e ao redor do globo, pressionando por uma mudança radical na produção e na comercialização desses alimentos.
A ação judicial coloca um holofote sobre um problema de saúde pública global e questiona até que ponto a indústria pode ser responsabilizada pelos impactos de seus produtos na sociedade.