Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) registraram pela primeira vez no Brasil a presença da linhagem K do vírus influenza A (H3N2), conhecida como gripe K. A detecção ocorreu no estado do Pará e acende um alerta para a vigilância sanitária no país, embora as autoridades reforcem que o aumento recente de casos de gripe no território nacional não está relacionado a essa nova variante.
Detecção e origem do caso
A confirmação aconteceu após a análise de uma amostra coletada em 26 de novembro de 2025 em Belém, capital paraense. O material foi obtido de uma mulher que havia chegado das Ilhas Fiji, na Oceania. Inicialmente examinado pelo Laboratório Central do Estado do Pará (Lacen-PA), o caso foi encaminhado para o Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro.
Foi esse laboratório de referência, liderado pela virologista Marilda Siqueira, que realizou a caracterização genética e atestou tratar-se da variante K. Até o momento, não há notificação de transmissão local, e o caso é considerado importado.
Alerta internacional e situação no Brasil
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) já haviam emitido alertas sobre o aumento da circulação da influenza A (H3N2) com o subclado K na Europa e no Leste Asiático. Nos Estados Unidos e no Canadá, também foi registrada uma antecipação da temporada do vírus e um crescimento de episódios ligados à gripe K.
No Brasil, no entanto, o cenário é diferente. Conforme explicou Marilda Siqueira, o pico secundário de influenza H3N2 observado em vários estados no final de 2025 está associado a outra linhagem, o clado J.2.3, e não ao K. O Ministério da Saúde corroborou essa informação em seu informe sobre Vigilância das Síndromes Gripais, destacando que o aumento da circulação do vírus sazonal ocorreu antes da identificação dos subclados K e J.2.4 no país.
O documento do ministério apontou aumento na positividade de exames para o subtipo H3 sazonal em estados das cinco regiões do país, incluindo Mato Grosso, São Paulo, Acre, Bahia e Santa Catarina, entre outros.
Importância da vacinação e medidas preventivas
Diante da detecção da nova linhagem e da circulação ativa do vírus da gripe, autoridades de saúde reforçam a importância das medidas de proteção. A Opas destacou a necessidade de monitorar a evolução do vírus, manter alta cobertura vacinal e tratar os casos em tempo oportuno.
A vacinação anual contra a gripe permanece como a ferramenta mais eficaz para prevenir casos graves e óbitos, especialmente entre as populações mais vulneráveis. Esses grupos incluem crianças, gestantes, idosos e pessoas com condições de saúde que debilitam o sistema imunológico.
"A vacina protege principalmente contra as formas mais graves", afirmou o pediatra e infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Além da imunização, medidas de higiene continuam essenciais para frear a transmissão de vírus respiratórios:
- Lavar as mãos com frequência com água e sabão ou usar álcool em gel.
- Evitar locais com aglomerações, principalmente em períodos de alta circulação viral.
- Utilizar máscara em caso de sintomas gripais para proteger as pessoas ao redor.
A detecção da gripe K no Brasil serve como um lembrete da natureza dinâmica dos vírus e da importância contínua dos sistemas de vigilância epidemiológica e genômica para monitorar possíveis ameaças à saúde pública.
