Uma adolescente de 16 anos foi resgatada após passar dois anos em situação de cárcere privado e tortura dentro da própria casa no Setor Leste Vila Nova, em Goiânia. A mãe e o padrasto da jovem foram presos como suspeitos pelos crimes, que só vieram à tona quando a vítima conseguiu fugir durante a madrugada.
Fuga desesperada revela anos de sofrimento
Na madrugada de sexta-feira (21), a adolescente aproveitou uma oportunidade para escapar da residência onde era mantida prisioneira. Desesperada, ela buscou ajuda de vizinhos, que imediatamente entraram em contato com o pai da jovem. O homem viajou para Goiânia assim que soube da situação e acionou a polícia.
Além da mãe e do padrasto, uma terceira pessoa que morava com a família também foi presa pela Polícia Civil. As investigações apontam que essa mulher participava ativamente das agressões contra a adolescente.
Condições degradantes e violência constante
De acordo com a reportagem da TV Anhanguera, a jovem era mantida nos fundos da residência, completamente privada de convivência social e alimentação adequada. Ela apresentava ferimentos por todo o corpo e estava visivelmente muito magra, mostrando sinais claros de maus-tratos prolongados.
A conselheira tutelar Aline Pinheiro Braz dos Santos revelou detalhes chocantes sobre as punições sofridas pela adolescente. "Eles criavam formas de punir. Simplesmente por não gostar da forma que ela fez alguma coisa. A punição talvez era não tomar banho, ficar a noite inteira de joelho. Ela ficava três dias ou mais sem se alimentar", relatou Aline em entrevista.
Histórico familiar e investigações em andamento
A adolescente e a mãe são originalmente de Novo Gama, cidade do entorno de Goiânia, e haviam se mudado para a capital há aproximadamente dois anos, logo após a separação do casal. O pai da vítima contou que a mãe nunca cumpriu a promessa de manter o contato após a mudança.
"Eu não conseguia falar com a mãe, mas ela falou: 'não, ela tá bem, tá vivendo'. Mas nunca deixou eu ter contato com ela. Aí, pela situação em que a minha filha ficou, vi que ela estava sendo mantida em cárcere privado, presa, dormindo no chão", desabafou o homem, visivelmente abalado.
O caso está sendo investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), enquanto a Delegacia Estadual da Mulher (DEAM) foi a responsável pelo atendimento inicial da denúncia. Os três suspeitos permanecem detidos, embora a polícia não tenha divulgado informações específicas sobre os crimes pelos quais irão responder.
A adolescente passou por exames no Instituto Médico Legal (IML) para avaliar as lesões e verificar possíveis casos de violência sexual. Antes disso, ela recebeu os primeiros cuidados médicos no Hospital Estadual da Mulher (HEMU), onde seu estado de saúde foi estabilizado.
As investigações seguem sob sigilo até a conclusão do inquérito policial, que apura todos os detalhes desse caso que chocou a comunidade goianiense e levantou alertas sobre violência doméstica contra adolescentes.