Funcionária denuncia maus-tratos em creche de Rio Preto com bilhete em mamadeira
Ex-funcionária denuncia maus-tratos em creche com bilhete escondido

Uma ex-funcionária de uma creche particular em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, tomou uma atitude extrema para alertar uma mãe sobre os supostos maus-tratos sofridos por seu filho, um menino de dois anos com autismo nível 2. A mulher, que pediu para não ser identificada, escondeu um bilhete dentro de uma mamadeira na sexta-feira, 12 de abril, dia em que rompeu seu contrato de trabalho.

O alerta urgente e as denúncias graves

No bilhete, a ex-funcionária escreveu uma mensagem direta: “Me chama, preciso falar com você urgente sobre os cuidados do seu filho”. Ela revelou ao g1 que, durante suas apenas duas semanas de trabalho, presenciou uma série de situações graves. Entre elas, gritos e xingamentos dirigidos às crianças, incluindo termos como “marginal”.

A profissional afirmou que registrou imagens do local seguindo orientação de seu advogado, para formalizar a denúncia. Em um dos vídeos, é possível ver o menino com autismo isolado em uma sala vazia, sentado em uma cadeira de refeição, aparentemente impossibilitado de sair. A criança estava suada, com fezes e sem refrigeração adequada em meio a um calor intenso.

“A dona ia dar banho nas crianças e não dava banho nele. Eu deixei ele solto uma vez, fora da cadeirinha, e ela falou que não podia porque ele morde outras crianças, que ele não parava. Ela colocou ele de volta na cadeirinha”, relatou a ex-funcionária.

Condições insalubres e violência física

As acusações vão além do tratamento dado ao menino com autismo. A denunciante relatou ter presenciado atos de violência física. Ela afirma que o dono da creche chutou a perna da criança, fazendo com que o chinelo voasse para longe, e que eram comuns sacudidas em crianças de dois anos.

O ambiente também foi descrito como precário e insalubre. A alimentação das crianças era mal armazenada, havia baratas, e alguns bebês dormiam no chão ou em colchões velhos e sujos. A creche, fundada há pouco mais de um mês, atendia cerca de 30 crianças, mas a limpeza era feita pelas próprias funcionárias. Quando questionou sobre uma faxineira, a ex-funcionária ouviu do dono que ele “tinha planos para o ano que vem se entrasse mais verba”.

Investigação policial e posicionamentos

Pelo menos cinco mães já procuraram a delegacia para registrar ocorrências sobre maus-tratos. O delegado Amaury Scheffer de Oliveira Junior, do 4º Distrito Policial de Rio Preto, confirmou a instauração de um inquérito policial para apurar os fatos.

Em nota publicada no domingo, 14 de abril, a direção da creche se defendeu das acusações. Alegou que as imagens foram registradas e divulgadas fora de contexto por ex-funcionárias que já haviam solicitado desligamento. A nota afirma que se tratam de “situações pontuais, momentâneas e já corrigidas” e que “nenhuma criança foi submetida a violência, maus-tratos ou situação degradante”.

A Prefeitura de São José do Rio Preto, por meio da Secretaria Municipal de Educação, informou que o estabelecimento não possui registro como escola de educação infantil. Ele está registrado como uma empresa de recreação e lazer, atividade que não se enquadra no sistema municipal de ensino e, portanto, não está sob a supervisão direta da pasta.

A direção da creche finalizou sua nota dizendo que está adotando todas as medidas legais cabíveis, tanto na esfera criminal quanto cível, para apuração dos fatos e responsabilização dos envolvidos.