A Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou, nesta terça-feira (16), uma ação de grande impacto contra as finanças do Comando Vermelho. A nova fase da Operação Contenção tem como alvo principal o desmonte do núcleo responsável por movimentar e ocultar os recursos da facção criminosa, por meio de um complexo esquema de lavagem de dinheiro.
Alvos e medidas da operação policial
Os agentes estão cumprindo 39 mandados de busca e apreensão em endereços localizados no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Mato Grosso. A força-tarefa, composta por policiais da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), Core e DGPE, além de policiais civis de Minas Gerais e Mato Grosso, busca documentos, mídias digitais e outros elementos de prova.
Em paralelo às buscas, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 630 milhões em contas bancárias e o sequestro de bens móveis e imóveis. O valor corresponde à movimentação financeira suspeita identificada pelas investigações em um período de cerca de dois anos.
Como funcionava o esquema de lavagem
As investigações, que contaram com apoio do Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (Cifra), apontam que o esquema era comandado por Edgar Alves de Andrade, o Doca, chefe da facção, e por Carlos da Costa Neves, o Gardernal, seu principal operador financeiro.
Segundo a polícia, o centro das movimentações era Wenceslau Batista Oliveira Neto, responsável por receber e concentrar grandes volumes de dinheiro em contas pessoais e empresariais. O esquema utilizava empresas de fachada, contas de terceiros espalhadas pelo país e até "mulas financeiras" para fazer depósitos em espécie de pequeno valor, uma prática clássica para dificultar o rastreamento da origem ilícita dos recursos.
Um dos pontos estratégicos para a concentração do dinheiro, segundo os documentos apreendidos, era o município de Pontes e Lacerda, no Mato Grosso. A localização distante das áreas de tráfico visava reduzir a exposição dos líderes criminosos.
Impacto estratégico no crime organizado
A operação vai além de apreensões pontuais. O objetivo declarado é provocar um colapso no fluxo de caixa do Comando Vermelho, retirando sua capacidade de financiar a compra de drogas, armas, veículos e a manutenção do domínio territorial. A investigação reforçou que a sustentação da facção não depende apenas da venda de drogas, mas principalmente de um sistema sofisticado de lavagem que reinsere os valores ilícitos no sistema financeiro legal.
A Operação Contenção é uma ofensiva estratégica do Governo do Estado para conter o avanço territorial da facção. Desde seu início, os números são expressivos: mais de 250 presos, 136 criminosos neutralizados em confronto, além da apreensão de cerca de 460 armas (sendo 189 fuzis) e mais de 50 mil munições.
A ação desta terça-feira representa um golpe direto no coração financeiro da organização, buscando minar sua estrutura logística e operacional a partir do cerceamento de seus recursos econômicos.