Juiz Eduardo Appio: da Lava Jato ao furto de champanhe, a carreira polêmica
Trajetória polêmica do juiz federal Eduardo Appio

A trajetória do juiz federal Eduardo Appio se tornou um dos casos mais comentados no Judiciário brasileiro recentemente. Sua carreira, que incluiu uma passagem pela emblemática 13ª Vara Federal de Curitiba, berço da Operação Lava Jato, foi interrompida por uma série de polêmicas, culminando em suspeitas de furto em um supermercado de Santa Catarina.

Formação e chegada à Lava Jato

Nascido em Erechim, Rio Grande do Sul, em 1971, Eduardo Appio construiu uma sólida formação acadêmica. Ele é graduado em Direito pela Universidade Luterana do Brasil, mestre pela Unisinos, doutor pela UFSC e fez pós-doutorado em Direito Constitucional na UFPR. Com mais de 30 anos de atuação em fóruns, sendo 23 na Justiça Federal, ele também trabalhou como promotor no Paraná e juiz de direito no Rio Grande do Sul.

Em fevereiro de 2023, Appio assumiu a 13ª Vara Federal de Curitiba por meio de um concurso de remoção. Na época, declarou que sua missão era resgatar a credibilidade e a neutralidade da vara, prometendo acabar com a espetacularização das operações. Entre suas decisões, ordenou a prisão do delator Alberto Youssef e anulou a condenação do ex-governador Sérgio Cabral no caso Comperj – ambas revistas posteriormente pelo TRF-4.

Afastamento e a polêmica da senha "LUL2022"

A breve passagem pela Lava Jato terminou em maio de 2023, quando o Conselho do TRF-4 afastou Appio de suas funções. O motivo foi uma representação do desembargador federal Marcelo Malucelli, que alegou que seu filho, João Eduardo Barreto Malucelli – sócio do ex-juiz Sergio Moro –, recebeu uma ligação telefônica com ameaças. Havia indícios de que o autor da ligação seria o próprio Appio.

Em setembro de 2023, a 8ª Turma do TRF-4 reconheceu, por unanimidade, a suspeição do juiz nos processos da Lava Jato e anulou todas as suas decisões relacionadas à operação. O processo disciplinar no CNJ foi arquivado em janeiro de 2024, após Appio firmar um acordo admitindo conduta imprópria, sem detalhá-la.

Outra controvérsia veio à tona quando se descobriu que o magistrado usava a senha "LUL22" para acessar o sistema da Justiça Federal. Appio explicou que era um protesto individual contra a prisão do ex-presidente Lula, que considerava ilegal, e negou ser petista.

As suspeitas de furto de champanhe em Blumenau

Em outubro de 2023, a carreira de Appio tomou um rumo ainda mais inesperado. Câmeras de segurança de um supermercado em Blumenau, Santa Catarina, flagraram o juiz furtando três garrafas de champanhe. Nas imagens, é possível vê-lo, vestindo camiseta azul e bermuda, colocar uma garrafa de champanhe francesa, avaliada em R$ 399, em uma sacola e tentar sair sem pagar.

Ele foi abordado por seguranças antes de deixar o estacionamento. As investigações da Polícia Civil apontaram que não foi um caso isolado: houve episódios similares em 20 de setembro e 4 de outubro. Em um deles, Appio passou direto pelo caixa com a garrafa escondida em uma sacola; em outro, pagou apenas por um urso de pelúcia.

O caso chegou às autoridades porque o suspeito deixou o local em um carro com placa registrada no nome do magistrado. A investigação foi repassada ao TRF-4, já que apenas o órgão pode apurar condutas de juízes de primeiro grau. Appio foi suspenso do cargo e responde a um processo administrativo disciplinar. Em nota, ele classificou as acusações como "fake news" e afirmou sofrer perseguições.

A trajetória de Eduardo Appio ilustra uma série de quedas abruptas: de uma das varas mais importantes do país para responder por supostos furtos em um supermercado, tornando-se um dos nomes mais polêmicos da magistratura federal recente.