Brasileira condenada a 2 anos e 6 meses no Camboja por tráfico humano
Brasileira condenada no Camboja por tráfico humano

A arquiteta brasileira Daniela Marys, de 36 anos, foi condenada a dois anos e seis meses de prisão no Camboja sob acusação de porte de drogas. A informação foi confirmada pela irmã da profissional, Lorena Oliveira, que afirma que Daniela foi vítima de tráfico internacional de pessoas.

Condenação e recursos legais

A família tem até 30 dias para recorrer da decisão judicial. "Estamos abalados e muito tristes", declarou Lorena Oliveira em entrevista. Segundo ela, o advogado que defendia Daniela abandonou o caso e não compareceu na quarta-feira (12) para ouvir a sentença.

A reportagem entrou em contato com o Itamaraty para questionar se o órgão deve entrar com algum recurso para extraditar a arquiteta, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

Golpe de emprego no exterior

Daniela viajou para o Camboja em 30 de janeiro após receber uma proposta de emprego na área de telemarketing. A família demonstrou preocupação com a ideia, mas a arquiteta argumentou que seria algo temporário para juntar dinheiro e retornar ao Brasil.

De acordo com relatos da irmã, Daniela já havia morado em outros países - como Estados Unidos e Dubai - e nunca enfrentou problemas legais anteriores.

Logo após chegar ao Camboja, a brasileira estranhou algumas exigências dos empregadores, incluindo a entrega do passaporte. Ela também relatou ter de dividir o quarto com outras jovens e não poder fechar a porta do cômodo.

Descoberta do golpe e prisão

Após algum tempo no local, Daniela descobriu que o trabalho consistia em aplicar golpes em brasileiros. Insatisfeita com a situação, ela pediu para deixar o emprego.

Em 26 de março, policiais apareceram no dormitório e prenderam a arquiteta por posse de três cápsulas de substância não identificada. Até o momento, a família desconhece qual droga Daniela é acusada de portar.

Dificuldades após a prisão

Após a detenção, começaram as dificuldades para manter contato com Daniela. Criminosos que estavam com o telefone da brasileira aplicaram um golpe na família, obrigando a transferência de R$ 27 mil.

Todos os gastos com alimentação, água e itens de higiene pessoal utilizados por Daniela na prisão precisam ser pagos pela família. Para cobrir essas despesas, incluindo custos para seu possível retorno ao Brasil, foi criada uma vaquinha online com meta de R$ 60 mil.

Alerta do governo brasileiro

O Ministério das Relações Exteriores emitiu alertas sobre o aliciamento de brasileiros com falsas propostas de emprego no Camboja. Em fevereiro de 2025, foi publicado um novo comunicado alertando sobre os riscos.

Segundo o Itamaraty, os golpes ocorrem por meio de propostas de trabalho em call centers - como no caso de Daniela - e em cassinos, onde as vítimas acabam submetidas a condições análogas à escravidão.

Em outubro, a pasta informou que a Embaixada do Brasil em Bancoc tem conhecimento do caso e vem realizando gestões junto ao governo cambojano, prestando assistência consular à arquiteta.

Nova embaixada brasileira

Em 2024, o Brasil anunciou a decisão de abrir uma embaixada em Phnom Penh. Em junho deste ano, o Senado aprovou a indicação de Vivian Loss Sanmartin como a primeira embaixadora do Brasil no Camboja.

Segundo determinação do Senado, a embaixada deverá acompanhar os casos de brasileiros vítimas de tráfico humano e de condições de trabalho degradantes no país asiático.

Atualmente, estima-se que cerca de 20 brasileiros residam no Camboja. Entre 2022 e 2023, nove brasileiros contratados para trabalhar em centros de crime cibernético foram repatriados.