Um dos proprietários do Hospital Santa Júlia, Édson Sarkis Júnior, compareceu à delegacia nesta quarta-feira (17) para prestar depoimento sobre as investigações da morte do menino Benício Xavier, de 5 anos. A criança faleceu em 23 de novembro após receber doses elevadas de adrenalina de forma indevida.
Sequência do erro fatal e depoimentos
O primeiro a depor foi Édson Sarkis Júnior, que chegou ao 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP) por volta das 9h30, acompanhado por advogados, e optou por não falar com a imprensa. As oitivas dos outros donos, Édson Sarkis e Júlia Sarkis, estão previstas para ocorrer ao longo do dia.
As investigações, conduzidas pelo delegado Marcelo Martins, apontam que a médica Juliana Brasil prescreveu a dose incorreta do medicamento, e a técnica de enfermagem Raiza Bentes aplicou a adrenalina diretamente na veia da criança. A polícia também apura a responsabilidade do hospital quanto à estrutura, protocolos e eventuais falhas no sistema de prescrição.
Hospital cadastrou médica com especialidade falsa
Em uma revelação grave, o delegado Marcelo Martins afirmou na última segunda-feira (15) que o Hospital Santa Júlia cadastrou a médica Juliana Brasil em plataforma do Ministério da Saúde como pediatra, mesmo ela não possuindo especialização na área. A informação foi constatada em consulta ao Cadastro Nacional de Especialistas (CNE).
"Alguém do hospital realizou essa declaração perante o Ministério da Saúde, afirmando que a médica Juliana era uma médica pediátrica, e essa pessoa pode responder por falsidade ideológica", declarou o delegado. O hospital não se pronunciou sobre o fato de Juliana atuar no setor pediátrico sem a especialidade.
Relato da família e agravamento do quadro
Segundo o pai, Bruno Freitas, Benício foi levado ao hospital com tosse seca e suspeita de laringite. A médica prescreveu, entre outros itens, três doses de adrenalina intravenosa, de 3 ml a cada 30 minutos. A família questionou a técnica de enfermagem ao ver a prescrição, pois a criança só havia recebido o medicamento por nebulização anteriormente.
Logo após a primeira aplicação, Benício apresentou piora súbita. A equipe o levou para a sala vermelha, onde sua oxigenação caiu para cerca de 75%. Transferido para a UTI, seu quadro se agravou, necessitando de intubação por volta das 23h. Durante o procedimento, o menino sofreu as primeiras paradas cardíacas e, após manobras de reanimação, não resistiu. Ele morreu às 2h55 do domingo.
"Queremos justiça pelo Benício e que nenhuma outra família passe pelo que estamos vivendo. O que a gente quer é que isso nunca mais aconteça", disse Bruno Freitas.
Em nota, o Hospital Santa Júlia informou que afastou a médica e a técnica de enfermagem e realizou uma investigação interna pela Comissão de Óbito e Segurança do Paciente.