A ex-primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, foi condenada à morte nesta segunda-feira, 17 de novembro de 2025, por crimes contra a humanidade. O veredito foi proferido por um tribunal penal internacional que a considerou responsável pela violenta repressão a um levante estudantil ocorrido no ano passado, que resultou em mais de 1000 mortos.
Os crimes e as evidências
Um painel composto por três juízes do tribunal penal internacional de Bangladesh condenou Hasina por uma série de crimes graves, incluindo incitação e omissão para impedir atrocidades. Ao anunciar a decisão, o juiz Golam Mortuza Mozumder foi enfático ao declarar que a ex-líder "cometeu crimes contra a humanidade ao ordenar o uso de drones, helicópteros e armas letais" contra civis desarmados.
As acusações foram sustentadas por gravações de áudio de ligações telefônicas da então premiê para seu gabinete, nas quais ela dava instruções violentas para conter os protestos. Estas evidências foram consideradas cruciais para a condenação.
Contexto político e fuga
Sheikh Hasina governava Bangladesh desde 2009 e havia conquistado seu quarto mandato consecutivo em janeiro de 2024, em eleições amplamente criticadas e boicotadas pela oposição. Os protestos que levaram à sua queda eclodiram em julho do ano passado, inicialmente contra as cotas de admissão para cargos públicos, consideradas arbitrárias pelo movimento estudantil.
O que começou como manifestações pontuais rapidamente se transformou em um levante popular mais amplo, conhecido como "Revolução de Julho", que pedia a renúncia da primeira-ministra. Diante da pressão popular, Hasina renunciou e fugiu para a Índia em agosto de 2024, deixando um vácuo de poder no país.
Repercussões e consequências
Às vésperas do anúncio da sentença, a capital Daca viveu momentos de tensão extrema. A segurança foi reforçada em toda a cidade, que registrou um aumento significativo da violência política, incluindo dezenas de bombas caseiras detonadas em diferentes locais.
A polícia local emitiu uma ordem controversa de "atirar para matar" qualquer pessoa flagrada com explosivos ou incendiando veículos. A medida refletia o clima de alerta máximo que antecedeu o veredito histórico.
O filho e conselheiro de Hasina, Sajeeb Wazed, já havia adiantado à Reuters que a ex-líder não recorrerá da sentença, a menos que um governo democraticamente eleito assuma o poder e aceite a participação da Liga Awami, partido de Hasina que está atualmente proibido de exercer atividades políticas.
Enquanto isso, a Índia ignora os pedidos de extradição para devolver a ex-premiê a Bangladesh, onde ela enfrentaria a execução da pena capital.
Mudança no poder
Com a fuga de Hasina, descrita pela acusação como "a mente por trás, a regente e a comandante suprema" da repressão, Bangladesh viu uma mudança significativa em sua liderança. Em agosto, o vencedor do Nobel da Paz, Muhammad Yunus, assumiu o governo como líder interino do país.
Segundo o escritório de direitos humanos da ONU, aproximadamente 1.400 pessoas foram assassinadas durante a revolta, representando a pior onda de violência política em Bangladesh desde a guerra de independência de 1971.
As primeiras eleições desde a queda de Hasina estão previstas para o início de fevereiro, marcando um novo capítulo na história política do país asiático.