Bastidores da demissão de Celso Sabino: União Brasil retorna ao governo Lula
Demissão de Celso Sabino e retorno do União Brasil ao governo

O cenário político brasileiro testemunhou nesta semana uma reviravolta significativa envolvendo o Ministério do Turismo, o partido União Brasil e a base de apoio do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A demissão do ministro Celso Sabino, selada na última terça-feira, 18 de dezembro de 2025, foi o desfecho de um longo impasse que culminou não apenas na saída do político paraense do cargo, mas também no retorno de sua legenda à base governista.

Do recorde no turismo à expulsão partidária

Na manhã de terça-feira, Celso Sabino estava em Belém, sua base eleitoral, acompanhando os planos para o Turismo, setor que caminha para receber 9 milhões de visitantes internacionais em 2025, um recorde histórico. No entanto, horas depois, em Brasília, um acordo político era costurado para remover o ministro do cargo. A situação era paradoxal: o mesmo partido que, em setembro, dera um ultimato de 24 horas para Sabino deixar o ministério e que, no dia 8 de dezembro, decidira por sua expulsão da sigla, agora negociava para reaver a pasta.

O processo de desfiliação foi iniciado após Sabino desobedecer à ordem partidária para sair do governo, especialmente às vésperas da COP30, que será sediada em Belém. O ministro chegou a afirmar que estava sendo usado como exemplo para outros membros do União Brasil que, como ele, defendiam o apoio a Lula na eleição de 2026.

O acordo nos bastidores: Rueda, Gleisi e a troca de favores

O pivô dessa mudança foi um encontro entre Antonio Rueda, presidente nacional do União Brasil, e Gleisi Hoffmann, ministra de Relações Institucionais. A reunião chamou a atenção pelo histórico de atritos públicos entre Rueda e o presidente Lula, que frequentemente se posicionam em campos opostos. A pauta central do acordo era clara: a volta do União Brasil ao governo, em troca de apoio da bancada do partido em votações críticas no Congresso Nacional.

O nome indicado para suceder Sabino no Ministério do Turismo é Gustavo Damião, ex-secretário de Turismo da Paraíba e filho do deputado federal Damião Feliciano (PB). Curiosamente, Gustavo Damião não é filiado ao União Brasil atualmente. A indicação foi articulada por Rueda com o líder da bancada, Pedro Lucas Fernandes (MA), e o deputado Damião Feliciano, sem uma consulta ampla a outros parlamentares ou à executiva do partido.

Divisões internas e a reação dos caciques

A manobra gerou mal-estar dentro do próprio União Brasil, que é uma federação com o PP, partido do bolsonarista Ciro Nogueira. Figuras importantes da sigla, que atuaram ativamente pela expulsão de Sabino – chamado de "traidor" –, agora veem a legenda retornar ao governo. Entre eles estão:

  • Ronaldo Caiado, governador de Goiás e pré-candidato a presidente, ferrenho opositor de Lula.
  • Sergio Moro, senador e ex-ministro da Justiça.
  • ACM Neto, ex-prefeito de Salvador.

Por outro lado, uma ala do partido prefere manter-se próxima ao governo federal, especialmente após Flávio Bolsonaro (PL-RJ) se colocar como candidato da centro-direita em 2026. Havia expectativa de uma debandada de parlamentares do União Brasil na Câmara no início do próximo ano, o que tornava o apoio da bancada ainda mais valioso para o Planalto.

Os interesses por trás da cortina: Senado e 2026

Os bastidores dessa crise revelam também uma disputa pelo Senado. Celso Sabino aspira ser o candidato do presidente Lula ao Senado pelo Pará, onde o governador Helder Barbalho (MDB) também é um forte pretendente. Sabino vinha reforçando publicamente sua imagem de aliado de primeira hora de Lula.

Até o anúncio de sua demissão, o ministro manteve a agenda oficial. Na quarta-feira, participou da reunião ministerial com Lula e publicou nas redes sociais: “Juntos pelo Brasil! Que venha 2026. Última reunião ministerial do ano”. O anúncio de sua saída veio em seguida, provocando manifestações de apoio de parlamentares do União Brasil insatisfeitos com a condução do caso. Para esse grupo, a suposta saída do partido do governo foi, na verdade, uma ação direcionada especificamente contra Celso Sabino.

A movimentação finaliza um capítulo turbulento, mas evidencia a natureza fluida e pragmática da política brasileira, onde alianças podem ser desfeitas e refeitas em questão de horas, com base em cálculos eleitorais e na necessidade de sustentação parlamentar.