Negociações de paz na Ucrânia: os 3 principais impasses e o encontro Zelensky-Trump
Zelensky e Trump se reúnem para discutir paz na Ucrânia

O conflito entre Rússia e Ucrânia, que completa quase quatro anos desde a invasão de fevereiro de 2022, pode estar entrando em uma fase decisiva de negociações. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou um encontro crucial com o líder americano, Donald Trump, marcado para o próximo domingo, 28 de dezembro de 2025, na Flórida. O objetivo central da reunião é discutir os termos de um possível acordo de paz que ponha fim à guerra.

Os três pilares do conflito: os pontos de atrito

Enquanto o Kremlin afirma ter recebido uma nova proposta conjunta de Kiev e Washington na quarta-feira, 24 de dezembro, e promete uma resposta em breve, três questões principais se destacam como os maiores obstáculos para um entendimento. O presidente russo, Vladimir Putin, mantém uma postura firme, recusando-se a assinar qualquer pacto que não atenda às suas exigências fundamentais.

O primeiro e mais complexo ponto é a questão territorial. Atualmente, a Rússia controla aproximadamente 20% do território ucraniano. Isso inclui a totalidade da Crimeia, anexada em 2014, 90% da região do Donbass, 75% das áreas de Zaporizhzhia e Kherson, além de porções menores de Kharkiv, Sumy, Mykolaiv e Dnipropetrovsk.

Putin já sugeriu estar aberto a uma "troca territorial", onde o Kremlin obteria o controle integral do Donbass em troca da devolução de algumas áreas ocupadas. Zelensky, por sua vez, resiste a ceder terras e pediu um "encontro de líderes" para resolver o impasse. A nova proposta ucraniana-americana abre caminho para a criação de "zonas desmilitarizadas", sujeitas a referendos na Ucrânia.

Garantias de segurança e o veto à Otan

O segundo grande impasse são as garantias de segurança para a Ucrânia no pós-guerra. Com Putin vetando categoricamente a adesão do país à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Kiev busca alternativas robustas para se proteger de futuras agressões.

O plano formulado com os Estados Unidos prevê um acordo com nações europeias que "espelhe" o Artigo 5 da Otan, ativando defesa mútua e o retorno de sanções em caso de nova invasão russa. Países como França, Reino Unido e Alemanha já se ofereceram para comandar uma força multinacional no país. A proposta também inclui limitar o exército ucraniano permanente a 800 mil soldados e estabelecer um sistema internacional de alerta antecipado liderado por Washington.

A polêmica sobre as eleições ucranianas

O terceiro ponto de discórdia é a realização de eleições presidenciais na Ucrânia, suspensas pela lei marcial. Putin insiste que um novo pleito é necessário, questionando a legitimidade do governo de Zelensky, e chegou a oferecer uma trégua nos ataques no dia da votação para facilitar o processo.

Zelensky, eleito democraticamente em 2019, argumenta que realizar uma eleição segura e legítima é impossível enquanto partes do território estão sob ocupação russa. Em setembro, no entanto, ele prometeu pedir ao Parlamento para organizar novas eleições caso um cessar-fogo bem-sucedido seja alcançado.

O papel internacional e o encontro crucial

O encontro entre Zelensky e Trump, neste domingo, 28, representa um momento-chave para destravar as negociações. Zelensky adiantou que discutirá com o presidente americano pontos que garantam a segurança futura de seu país. A comunidade internacional observa atentamente, com países europeus assumindo compromissos de defesa e apoiando a entrada da Ucrânia na União Europeia como parte do pacote de garantias.

O caminho para a paz permanece estreito e cheio de complexidades. Enquanto Putin condiciona qualquer acordo às suas demandas, Zelensky navega entre a pressão por segurança e a resistência a concessões territoriais, buscando no apoio externo a chave para assegurar o futuro da Ucrânia. O resultado das conversas em Florida poderá definir se 2026 começará sob o signo da guerra ou de uma frágil esperança de paz.