Uma nova rodada de negociações para um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia teve início nesta sexta-feira, 19 de abril, em Miami, nos Estados Unidos. As conversas contam com a participação de representantes americanos, russos e ucranianos, em um esforço diplomático complexo que tenta conciliar interesses profundamente divergentes.
O pêndulo da diplomacia de Trump
A promessa de campanha do presidente americano, Donald Trump, era encerrar o conflito em 24 horas. Quase um ano após assumir o cargo, a realidade se mostrou bem mais complicada. Trump atuou como um intermediário cuja posição oscilou como um pêndulo ao longo dos meses.
Logo no início de seu mandato, em fevereiro, Trump apostou na sua relação com o presidente russo, Vladimir Putin, para tentar uma solução rápida. Na primeira reunião com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Casa Branca, Trump culpou a resistência de Kiev pelo impasse e defendeu que era inevitável a Ucrânia ceder território.
Em agosto, a cena mudou. Trump recebeu Putin com tapete vermelho no Alasca, em um encontro marcado por sorrisos e aplausos, mas que não resultou em avanços concretos. A reunião terminou sem anúncios.
A reação europeia e a mudança de tom
A aproximação entre Trump e Putin alarmou as capitais europeias. Líderes do continente desembarcaram em peso em Washington para apoiar Zelensky, temendo que um ataque à Ucrânia hoje represente uma ameaça à segurança europeia amanhã. A pressão deu resultado.
O tom do encontro seguinte entre Trump e Zelensky no Salão Oval foi diferente. O presidente americano saiu esperançoso e prometeu intermediar uma conversa direta entre Zelensky e Putin – reunião que, no entanto, nunca se concretizou.
Ficou claro que a Rússia aproveitava as delongas para ganhar mais terreno no campo de batalha. Irritado, Trump mudou novamente sua postura, passando a defender que a Ucrânia poderia recuperar todo o território perdido e chegando a chamar a Rússia de "tigre de papel". Em outubro, anunciou as sanções mais duras até então contra o Kremlin.
O plano de 28 pontos e o impasse territorial
A pressão sobre Moscou, contudo, não durou. Em novembro, os negociadores americanos apresentaram um plano de paz com 28 tópicos, considerado por analistas como mais alinhado aos interesses russos.
Os ucranianos aceitam discutir alguns pontos, como a promessa de não ingressar na Otan. O grande obstáculo, porém, continua sendo o território. A Rússia exige a anexação das regiões de Donbass e Zaporíjia, incluindo áreas que não conseguiu ocupar militarmente. Zelensky afirma que apenas o povo ucraniano pode decidir sobre suas fronteiras e exige garantias de segurança concretas.
Enquanto isso, a União Europeia tenta mostrar força. Nesta sexta-feira, o bloco aprovou um empréstimo de 90 bilhões de euros para a Ucrânia. A ideia inicial de usar ativos russos congelados foi abandonada por falta de consenso. Em sua entrevista de fim de ano, Putin classificou a proposta anterior como um roubo e afirmou que a Europa recuou para evitar "consequências sérias".
O que esperar das negociações em Miami
As conversas deste fim de semana em Miami acontecem após uma reunião de enviados americanos com Zelensky na Alemanha, ocorrida nesta semana. A missão dos Estados Unidos é monumental: conciliar visões antagônicas.
As principais dúvidas que pairam sobre a mesa de negociação são:
- Os russos aceitarão que EUA e Europa ajudem na segurança ucraniana no pós-guerra?
- A Ucrânia cederá algum território para encerrar o conflito?
- Para qual lado o pêndulo da diplomacia de Trump irá pender desta vez?
Putin já sinalizou disposição para encerrar a guerra, mas sob suas condições. O mundo aguarda para ver se a rodada em Miami conseguirá aproximar posições tão distantes ou se o conflito seguirá seu curso, com a incerteza diplomática e o sofrimento humano que o acompanham.