Em um movimento que intensificou a tensão em uma das fronteiras mais voláteis do Sudeste Asiático, a Tailândia realizou ataques aéreos contra posições cambojanas nesta sexta-feira, 26 de dezembro de 2025. A ação militar ocorreu paradoxalmente durante o terceiro dia consecutivo de negociações entre os dois países, que tentam desesperadamente estabelecer um novo acordo de cessar-fogo.
Escalada Militar e Colapso da Trégua
Os bombardeios desta sexta-feira marcam o colapso definitivo de um cessar-fogo que havia sido firmado em julho, após cinco dias de confrontos intensos. Apesar de ter proporcionado uma pausa temporária, o acordo se mostrou frágil e os combates foram retomados no início de dezembro. A Força Aérea tailandesa justificou a operação, afirmando que atingiu uma "posição militar fortificada" do Camboja na área disputada, após a retirada de civis.
Entretanto, o Ministério da Defesa do Camboja apresentou uma versão diametralmente oposta dos fatos. As autoridades em Phnom Penh acusaram Bangkok de realizar ataques indiscriminados contra áreas residenciais, resultando em casas destruídas e civis feridos. Segundo o governo cambojano, os ataques ocorreram na província de Banteay Meanchey, no noroeste do país, e envolveram o lançamento de até 40 bombas por caças F-16 tailandeses.
Impacto Humanitário e Busca por Solução Diplomática
O custo humano deste conflito renovado é alarmante. De acordo com autoridades locais e organismos humanitários, os confrontos já deixaram ao menos 41 mortos e deslocaram quase um milhão de pessoas ao longo da fronteira comum de aproximadamente 800 quilômetros. A Tailândia declarou que o objetivo da operação aérea era retomar o controle da vila de Nong Chan, classificando a ação como "eficiente e bem-sucedida".
Enquanto as bombas caíam, diplomatas e representantes militares dos dois países continuavam suas conversas em um posto de fronteira. A esperança agora se volta para uma reunião de alto nível marcada para este sábado, que contará com a presença dos ministros da Defesa de ambas as nações. O primeiro-ministro tailandês, Anutin Charnvirakul, expressou otimismo cauteloso, afirmando que um novo acordo poderá ser assinado assim que as condições de ambos os lados forem aceitas.
"Espero que esta seja a última vez que precisemos assinar um cessar-fogo, para que a paz possa finalmente se estabelecer e as pessoas retornem às suas casas", declarou Charnvirakul.
Contexto Histórico e Mediação Internacional
A disputa territorial entre Tailândia e Camboja é um legado complexo do período colonial, com mais de um século de história. Conflitos esporádicos ao longo das décadas já causaram mortes de civis e militares de ambos os lados. A atual escalada ganhou força em maio de 2025, após a morte de um soldado cambojano em um choque na fronteira, e se agravou drasticamente em 24 de julho, quando o Camboja lançou foguetes contra território tailandês, provocando uma resposta aérea imediata de Bangkok.
A instabilidade na região atraiu a atenção das principais potências globais. Tanto Estados Unidos quanto China atuam como mediadores no conflito, refletindo a preocupação internacional com a segurança de uma área estratégica para rotas comerciais e cadeias de suprimento regionais. Analistas destacam que o conflito também testa o delicado equilíbrio diplomático entre as potências com influência no Sudeste Asiático.
A comunidade internacional aguarda com apreensão o resultado das negociações deste fim de semana, na esperança de que um cessar-fogo duradouro possa ser alcançado e interromper uma das mais graves crises humanitárias da região nos últimos anos.