A paralisação dos motoristas do transporte coletivo de Campo Grande completou o terceiro dia consecutivo nesta quarta-feira (17), sem qualquer sinal de acordo entre as partes envolvidas. A greve, motivada pelo atraso no pagamento de salários, vales e do 13º salário, mantém os ônibus parados na capital sul-mato-grossense, causando um impacto severo na mobilidade urbana e na economia local.
Impasses financeiros e falta de recursos
O cerne do conflito reside em uma disputa financeira entre a Prefeitura de Campo Grande e o Consórcio Guaicurus, responsável pela operação do sistema. De um lado, os trabalhadores, representados pelo Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano da Capital, exigem o pagamento imediato de R$ 1,3 milhão, valor este reconhecido como devido pela Justiça do Trabalho.
O Consórcio Guaicurus, por sua vez, alega que não pode honrar os compromissos com os empregados devido a um atraso no repasse de R$ 39 milhões por parte da administração municipal. A prefeitura, contudo, se defende afirmando que não há inadimplência e que todos os pagamentos estão em dia, criando um impasse que impede a solução do problema.
Consequências para a população e o comércio
Enquanto as partes não chegam a um entendimento, a população de Campo Grande sofre as consequências diretas da paralisação. Mais de 100 mil usuários do transporte público tiveram suas rotinas completamente alteradas, sendo forçados a buscar alternativas, muitas vezes onerosas, para se deslocar.
A costureira Rosângela Moreira dos Santos, de 58 anos, é um exemplo vivo do transtorno. Morando a quase 6 km do centro da cidade, onde trabalha, ela precisou caminhar por mais de uma hora para chegar ao emprego. "A gente tem que trabalhar. No primeiro dia eu vim de carona e voltei com carro de aplicativo. Paguei R$35 nessa corrida", relatou, destacando a dificuldade financeira imposta pela situação.
O setor comercial já sente o baque. Segundo estimativas do comércio local, a greve já teria causado um prejuízo acumulado de cerca de R$ 10 milhões, reflexo da queda na circulação de pessoas e no consumo.
Tentativa de conciliação e decisão judicial
Na tentativa de resolver a crise, uma audiência de conciliação foi realizada na terça-feira (16) na Justiça do Trabalho, com a presença de representantes da prefeitura, do consórcio e do sindicato. A Justiça determinou que os motoristas retomassem as atividades nesta quarta-feira, estabelecendo um cronograma mínimo de operação da frota:
- Das 6h às 8h30: 70% da frota em circulação.
- Das 8h30 às 17h: 50% da frota.
- Das 17h às 20h: retorno para 70%.
- Após as 20h: 50% novamente.
Para pressionar o fim da paralisação, foi fixada uma multa diária de R$ 200 mil ao sindicato em caso de descumprimento da ordem. No entanto, a decisão não foi aceita pela categoria. O presidente do sindicato, Demétrius Ferreira, mesmo orientando o retorno, viu os motoristas decidirem pela manutenção da greve. "Enquanto o Consórcio Guaicurus não efetuar o pagamento... o trabalhador está revoltado, não vai voltar. Vai seguir com a greve", afirmou Ferreira.
A reação dos trabalhadores foi imediata ao anúncio da multa, com os motoristas deixando o plenário em protesto. A situação permanece indefinida, com a população e a economia de Campo Grande aguardando uma solução que pareça distante.