BC mantém projeção de crescimento até 2027 e adia expectativa de corte de juros
Relatório do BC adia corte de juros; março no radar

O Banco Central do Brasil (BC) divulgou nesta quinta-feira (18) seu Relatório de Política Monetária (RPM) de dezembro, e o documento trouxe um sinal claro de cautela aos mercados. A manutenção da projeção de crescimento do PIB em 3,2% para os três primeiros trimestres de 2027 foi interpretada por analistas como um obstáculo para um corte imediato da taxa Selic, fortalecendo a visão de que o ciclo de afrouxamento monetário deve começar apenas em março do próximo ano.

Projeção estável sinaliza cautela e adia janeiro

Para os especialistas, a decisão do BC de não alterar a projeção de longo prazo pesou diretamente contra a possibilidade de uma redução dos juros já na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2026, marcada para janeiro. Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, destacou que "a projeção estagnada no primeiro, segundo e terceiro trimestres de 2027 em 3,2% complica ainda mais" um movimento no próximo mês.

Ela apontou, no entanto, um fator de alívio parcial: a projeção do BC para o PIB do quarto trimestre de 2025, entre 0% e 0,3%, está no intervalo mais otimista do mercado. Além disso, a leitura sobre o hiato do produto (a diferença entre a atividade econômica real e a potencial) indica uma economia menos ociosa do que se estimava anteriormente.

Sinais mistos no crédito e confiança na desaceleração

O capítulo do crédito no relatório apresentou revisões em direções opostas. O BC elevou a expectativa para o crédito livre a pessoas físicas, mas reduziu a projeção para empresas. No agregado, conforme explicou Natalie Victal, o efeito foi compensado por uma revisão para cima no crédito direcionado, levando a uma nova alta na projeção total de crédito.

Apesar desses ajustes, o documento reforça a confiança da autoridade monetária na desaceleração da atividade econômica. A economista chamou atenção para o "ganho de confiança na desaceleração", com destaque para uma menção no relatório sobre uma surpresa negativa no consumo.

Março sai fortalecido como cenário base

Diante do tom cauteloso do RPM, a análise converge para março como a data mais provável para o início do ciclo de cortes da Selic. Natalie Victal afirmou que "março sai fortalecido como cenário base", mas observou que o balanço geral do Copom ficou mais "hawkish" (tendência a juros altos). Ela avalia que o comitê retirou probabilidade de janeiro, aumentou a de março, mas também a de abril.

"O plano de voo parece ser março", disse, sem descartar completamente abril, especialmente diante do cenário cambial atual. Fatores como uma flexibilização qualitativa no discurso do BC e a queda no preço do petróleo são apontados como elementos que fortalecem o caso para um início em março.

Na avaliação de Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset, o relatório teve um impacto limitado sobre a precificação de ativos, pois não trouxe informações novas que alterassem significativamente a tendência de mercado em relação a um corte em março. Ele destacou que parte das revisões para cima no crescimento decorre de fatores técnicos, como suavizações nas projeções para 2025, que geraram um carrego estatístico para 2026.

Ian Lima também chamou a atenção para o horizonte de inflação. "O modelo do Banco Central indica que a meta de inflação de 3% só é atingida no terceiro trimestre de 2028", afirmou, reforçando a ideia de que o ciclo de queda de juros pode não estar tão próximo quanto alguns agentes esperam. Para ele, o terceiro trimestre de 2027 se torna um ponto de atenção relevante, por ser o horizonte que será considerado na reunião de janeiro do Copom.