O primeiro pregão de dezembro na bolsa brasileira foi marcado por um tom de cautela e frustração. O Ibovespa, principal índice da B3, fechou o dia em queda de 0,29%, aos 158,6 mil pontos. Enquanto isso, o dólar comercial registrou alta, sendo negociado a R$ 5,35 no fechamento. O movimento foi uma reação direta às declarações firmes do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, sobre o futuro da taxa básica de juros, a Selic.
Discurso Firme do BC Esfria Expectativas do Mercado
Em evento promovido pela XP Investimentos, Gabriel Galípolo foi enfático ao afirmar que "não há qualquer tipo de adição ou modulação" em relação às suas falas anteriores que possa alterar a perspectiva de manter a Selic no patamar atual de 15% ao ano. A declaração, dada nesta segunda-feira, 1º de dezembro de 2025, reforçou o posicionamento duro do Comitê de Política Monetária (Copom) e praticamente descartou um corte de juros na próxima reunião.
O comentário do presidente do BC chegou para esfriar um ânimo que havia sido aquecido pelo mais recente Boletim Focus. A pesquisa semanal com economistas de instituições financeiras, divulgada pelo próprio Banco Central, mostrou uma projeção ligeiramente mais otimista para a inflação oficial. A expectativa para o IPCA de 2025 caiu de 4,45% para 4,43%, mantendo-se dentro do limite máximo da meta, que é de 4,5%.
Reação em Cadeia nos Ativos de Risco
A frustração do mercado com a postura do BC se refletiu imediatamente nos papéis. Rubens Cittadin Neto, especialista em renda variável da Manchester Investimentos, explica o sentimento: "Quando o BC adota um tom mais cauteloso e o mercado reage de forma negativa, significa que ele anseia muito por um corte de juros. É isso que tem movimentado os ativos de risco há pelo menos um ano".
Os grandes bancos, que são pesos-pesados no índice, acompanharam a queda geral:
- Itaú Unibanco (ITUB4): -0,82%
- Bradesco (BBDC3): -0,78% / (BBDC4): -1,53%
- Santander Brasil (SANB11): -0,85%
- Banco do Brasil (BBAS3): -0,93%
Atenção Global Também Voltada para os Juros
Enquanto o Brasil digeria as palavras de Galípolo, os investidores internacionais também ajustavam suas lentes para a política monetária. A agenda do dia incluiu um discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. O mercado busca pistas sobre o momento em que a autoridade monetária americana pode pausar seu ciclo de cortes de juros.
Para a reunião do Fed ainda em dezembro, a grande maioria dos investidores, 87,6% segundo a ferramenta FedWatch, espera um corte de 0,25 ponto percentual. O cenário futuro ganhou um novo elemento com a declaração do presidente americano, Donald Trump, que afirmou no mesmo dia já ter decidido quem substituirá Powell quando seu mandato terminar, em 15 de maio de 2026. A expectativa é de que o novo indicado adote uma postura mais agressiva em favor de cortes de juros, alinhada à defesa de Trump.
O dia mostrou, portanto, que tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, as decisões e declarações sobre os rumos da taxa de juros continuam sendo o principal combustível para a volatilidade e o direcionamento dos mercados financeiros globais.