O mercado financeiro brasileiro teve uma sessão de forte tensão nesta terça-feira, 16 de dezembro de 2025, com o principal índice da bolsa de valores registrando uma das maiores quedas do período. O Ibovespa desvalorizou 2,40%, fechando próximo aos 158,5 mil pontos, em um movimento diretamente ligado à postura do Banco Central.
Tom duro do Copom derruba expectativas do mercado
A divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) foi o principal gatilho para o tombo. O documento, que detalha os debates que mantiveram a taxa Selic em 15%, adotou um tom considerado mais duro pelos investidores. A repetição da expressão "bastante prolongado" para descrever o ciclo de juros elevados foi interpretada como um sinal claro de que o tão aguardado início do ciclo de cortes não deve ocorrer já na reunião de janeiro.
O texto reforçou que a postura cautelosa tem sido crucial para a desaceleração da inflação e reafirmou o compromisso com a meta. Para Leonardo Santana, especialista da Top Gain, o choque de expectativas pesou significativamente sobre os ativos, levando a uma correção generalizada.
Setor financeiro e commodities no vermelho
A reação negativa foi sentida em todo o mercado, com destaque para os papéis de maior peso no índice. O setor bancário, sensível às mudanças na taxa de juros, liderou as perdas. As ações do Santander (SANB11) caíram 3,58%, seguidas por Bradesco (BBDC4), com recuo de 2,75%, Itaú (ITUB4), com queda de 2,58%, e Banco do Brasil (BBAS3), que desvalorizou 1,36%.
A Petrobras também acompanhou a tendência de baixa, registrando uma queda de aproximadamente 3% no dia, pressionada ainda pela queda nos preços internacionais do petróleo.
Cenário externo não ameniza pressão doméstica
Enquanto o mercado brasileiro sofria com a notícia do Copom, o cenário internacional apresentava dados mistos. Nos Estados Unidos, o relatório de emprego (payroll) de novembro mostrou a criação de 64 mil vagas fora do setor agrícola, número superior à expectativa de analistas, que era de 40 mil. Apesar disso, a visão sobre os cortes de juros pelo Federal Reserve permaneceu estável, com expectativa de redução de 0,25 ponto percentual em janeiro.
Em Wall Street, os futuros dos principais índices mostravam desempenho irregular. Enquanto o dólar fechou em alta frente ao real, cotado a R$ 5,50, o movimento foi atribuído por Bruno Shahini, da Nomad, a uma busca por proteção diante do aumento da aversão doméstica ao risco e da elevação do prêmio de risco político no Brasil.
Shahini avalia que o quadro interno foi agravado pela queda das commodities e contrastou com um ambiente externo mais benigno, marcado pela fraqueza do dólar global e pela queda nos rendimentos dos títulos do Tesouro americano, fazendo o real se destacar negativamente.
Conclusão: cautela deve prevalecer
O dia deixou claro que, apesar das expectativas do mercado, o Banco Central mantém seu discurso de cautela no combate à inflação. A decisão de sinalizar a manutenção dos juros altos por mais tempo impactou imediatamente os preços dos ativos e reforça um cenário de maior seletividade para os investidores no curto prazo. A atenção agora se volta para os próximos indicadores econômicos e para a comunicação do BC, que seguirá sendo minuciosamente analisada.