O mercado financeiro brasileiro demonstrou maior cautela em relação ao ciclo de baixa da taxa Selic para 2026, com importantes instituições revisando suas projeções para patamares mais elevados. A mudança de perspectiva ocorre mesmo com a inflação mostrando sinais de controle dentro das metas estabelecidas.
Revisão das projeções do Relatório Focus
O Relatório Focus, divulgado pelo Banco Central na segunda-feira, 10 de novembro de 2025, trouxe como principal novidade a revisão para cima nas expectativas para a taxa Selic em 2026. A pesquisa, realizada com instituições financeiras, mostrou que a mediana das projeções para a taxa básica de juros recuou de 12,00% para 12,25% na comparação com a semana anterior.
Enquanto isso, as projeções para o IPCA permaneceram estáveis em 4,30% para dezembro de 2026. A inflação para este ano foi mantida em 4,55%, ligeiramente acima do teto da meta estabelecida pelo Banco Central, que é de 4,50%.
Mudança de posição do Bradesco
O Banco Bradesco, uma das maiores instituições financeiras do país, também ajustou suas projeções de forma significativa. O banco, que anteriormente projetava uma Selic de 11,75% para o final de 2026, agora espera que a taxa feche o próximo ano em 12,00%.
Esta revisão ocorre mesmo mantendo as expectativas de inflação em 4,50% para 2025 e 3,80% para 2026. A mudança reflete um tom mais cauteloso em relação ao ritmo de redução dos juros no país.
Motivos para a cautela
Em análise divulgada na noite de sexta-feira, 7 de novembro, o Bradesco destacou que a desaceleração do PIB no segundo semestre de 2025 está alinhada com suas expectativas. No entanto, o banco identificou sinais de possível reaceleração econômica no primeiro trimestre de 2026.
Entre os fatores que podem impulsionar a economia doméstica no início do próximo ano, o banco citou:
- Isenção do IRPF para quem recebe até R$ 5 mil
- Antecipação de pagamento de precatórios
- Aumento do salário-mínimo
- Resiliência do mercado de trabalho
Diante deste cenário, o Bradesco manteve a expectativa de crescimento do PIB para 2025 em 2,0% e revisou levemente para cima a projeção de 2026, de 1,4% para 1,5%.
Impactos da política monetária
O ritmo mais lento na redução da Selic tende a elevar o nível do endividamento bruto do governo geral de 79,7% este ano para 84,9% em 2026. Este aumento reforça a urgência na redução dos níveis de juros no Brasil.
Outro efeito colateral dos juros elevados será o aumento do desemprego no ano eleitoral de 2026, conforme apontado pelas análises do setor.
Desempenho do crédito surpreende
O Bradesco destacou que o crédito está desacelerando mais lentamente do que o esperado para o atual nível da Selic. Tanto o crédito não bancário, via mercado de capitais, quanto as concessões de empréstimos pelos bancos vêm apresentando desaceleração gradual, mesmo diante do aperto monetário relevante.
O banco justificou este comportamento pelo fechamento dos spreads nas emissões de dívida corporativa, que tem compensado parte do efeito da elevação dos juros para as empresas. Com base nessa análise, o Bradesco revisou suas projeções para o crescimento do crédito de 7,7% para 9,0% em 2025 e de 5,7% para 7,1% em 2026.
Comparação internacional
Enquanto o Brasil mantém cautela na redução dos juros, outros países da região seguem caminho diferente. O Banco Central do México reduziu sua taxa básica em 0,25 ponto percentual na semana anterior, chegando a 7,25%, mesmo com inflação entre 3,7% e 3,8%.
No Chile, apesar da forte queda da inflação em outubro, o banco central deve manter os juros em 4,50% para perseguir uma inflação de 3,7%.
O diferencial de juros do Brasil em relação aos Estados Unidos, que supera 10%, tem transformado o país no destino preferido para arbitragem financeira por grandes fundos e investidores brasileiros com capitais em paraísos fiscais.