Temor com gastos em IA derruba ações de tecnologia em Nova York; Oracle cai 5,46%
Gastos em IA derrubam ações de tecnologia em NY

O mercado financeiro de Nova York enfrentou uma sessão de forte pressão nesta quarta-feira, 18 de dezembro de 2025, impulsionado por um crescente temor entre os investidores sobre o ritmo e a sustentabilidade dos altos gastos em inteligência artificial. O movimento negativo foi liderado pelo setor de tecnologia, arrastando os principais índices da Bolsa de Valores de Nova York para o território negativo.

Oracle no centro da tempestade

O estopim para a onda de vendas foi uma informação específica envolvendo a gigante de tecnologia Oracle. A gestora de investimentos Blue Owl teria decidido não participar do financiamento de um grande projeto de data center da Oracle no estado de Michigan. Essa notícia reacendeu questionamentos críticos sobre o custo e a viabilidade da expansão acelerada de infraestrutura para IA, que consome bilhões de dólares.

As ações da Oracle foram as mais castigadas, registrando uma queda acentuada de 5,46% no pregão. A empresa acumula uma performance preocupante, com desvalorização próxima a 40% em apenas três meses. Paralelamente, os seguros contra calote (CDS) da companhia subiram para cerca de 155 pontos-base, um sinal claro do aumento da percepção de risco por parte do mercado de crédito.

Efeito dominó no setor de IA

O pessimismo não se limitou à Oracle. A desconfiança se espalhou por outras empresas fortemente associadas à corrida pela inteligência artificial, resultando em perdas expressivas. O índice Nasdaq, mais concentrado em empresas de tecnologia, recuou expressivos 1,81%. O S&P 500 caiu 1,16%, enquanto o Dow Jones teve baixa mais moderada de 0,47%.

Outras companhias do setor também sentiram o impacto:

  • Nvidia
  • AMD
  • Broadcom
  • Palantir

Este movimento reforça um ajuste que vem ganhando força nas últimas semanas, à medida que os investidores reavaliam os custos elevados dos projetos de infraestrutura necessários para sustentar sistemas de IA em larga escala.

O peso dos data centers e o fantasma da dívida

Nos bastidores do mercado, consolida-se a percepção de que o setor entrou em uma fase de gastos agressivos, especialmente com a construção de data centers e a compra de equipamentos de alto desempenho. A Oracle é um exemplo emblemático: a empresa revisou recentemente sua projeção de gastos de capital (Capex) para 2026, dobrando o valor de US$ 25 bilhões para US$ 50 bilhões, direcionados majoritariamente para a expansão em IA.

Analistas de grandes bancos americanos apontam que o problema não está apenas no volume astronômico dos investimentos, mas na forma como eles vêm sendo financiados. A estratégia tem se apoiado fortemente na emissão de dívida, o que aumenta a pressão sobre o balanço patrimonial das empresas em um ambiente de juros que, apesar de cortes recentes, ainda se mantém em patamar elevado.

O debate sobre uma possível bolha

O episódio trouxe de volta ao centro das conversas em Wall Street o debate sobre uma possível bolha especulativa em torno da inteligência artificial. Embora o potencial transformador da tecnologia continue amplamente reconhecido, cresce a desconfiança sobre a velocidade com que as empresas estão ampliando sua capacidade produtiva antes de comprovar ganhos consistentes de rentabilidade e retorno sobre esses investimentos massivos.

Relatórios de casas de análise alertam que esse cenário de gastos acelerados com retorno incerto pode começar a pesar sobre o mercado de crédito corporativo ao longo de 2026, especialmente para companhias com prazos longos de endividamento.

Contexto macroeconômico e próximos passos

Além das preocupações setoriais, o mercado também acompanhou declarações de autoridades do Federal Reserve (Fed). Enquanto o diretor Christopher Waller sinalizou a necessidade de novos cortes de juros, Raphael Bostic, presidente do Fed de Atlanta, adotou um discurso mais cauteloso, defendendo paciência na política monetária.

Os olhos do mercado agora se voltam para a divulgação dos resultados trimestrais da Nvidia, prevista para os próximos dias. O balanço da empresa, considerada uma referência global no setor de IA, é visto como um novo teste crucial para o humor dos investidores. Seu desempenho deve ajudar a calibrar as expectativas sobre até onde vai o fôlego – e a paciência do mercado – para financiar essa corrida tecnológica bilionária.