Bancos centrais revisam cenários climáticos após erro em estudo base
Bancos centrais revisam cenários climáticos após erro

A rede global que reúne os principais bancos centrais do mundo, incluindo o Banco Central do Brasil, anunciou uma revisão importante em seus modelos de projeção climática. A decisão ocorre após a retratação de um estudo científico que servia como uma das bases para calcular os impactos econômicos do aquecimento global.

O que motivou a revisão dos cenários?

O anúncio foi feito publicamente nesta terça-feira (17) por François Villeroy de Galhau, presidente do Banco Central da França. Ele confirmou que a Network for Greening the Financial System (NGFS) planeja divulgar uma nova rodada de cenários climáticos de longo prazo em novembro de 2026.

A principal mudança será a remoção de uma "função de dano" específica. Esse componente, que estimava os prejuízos econômicos das mudanças climáticas, foi construído com base em um artigo científico do Instituto de Potsdam para Pesquisa de Impactos Climáticos. O estudo, que projetava uma possível redução de 62% no PIB mundial neste século devido ao descontrole do aquecimento, foi retirado da literatura acadêmica após críticas metodológicas.

Papel e composição da NGFS

Criada em 2017, a NGFS é uma coalizão poderosa que agrega cerca de 150 bancos centrais e supervisores financeiros globais. Entre seus membros estão instituições de peso como o Banco Central Europeu, o Banco do Povo da China e o Banco Central do Brasil.

Villeroy de Galhau ressaltou que os cenários da NGFS são ferramentas essenciais para orientar políticas públicas, mantendo o debate ancorado em evidências científicas. Os modelos buscam medir dois tipos principais de risco: os riscos físicos (como eventos extremos) e os riscos de transição (custos e disrupções na mudança para uma economia de baixo carbono), além de seus efeitos macroeconômicos e financeiros.

Posição do Banco Central do Brasil

O Banco Central do Brasil participa ativamente da NGFS e tem utilizado os cenários da rede como referência para suas próprias análises de estabilidade financeira e riscos climáticos. No entanto, a autoridade monetária brasileira adota uma postura cautelosa.

Em comunicações recentes, o BC reconhece que as mudanças climáticas representam riscos relevantes para o sistema financeiro, mas enfatiza a necessidade de aprimorar continuamente os modelos. A instituição destaca a incerteza envolvida e as limitações dos dados disponíveis, defendendo que os cenários sejam usados como instrumentos de avaliação de risco, e não como previsões exatas e determinísticas.

Contexto e próximos passos

A revisão metodológica ocorre em um momento de maior escrutínio sobre o uso de estudos acadêmicos na formulação de políticas econômicas ligadas ao clima. O debate se intensifica com o aumento de eventos extremos e as discussões sobre os custos da transição energética.

A NGFS informou que está revisando sua metodologia completa e avaliando como incorporar as mudanças necessárias após a retirada do estudo de Potsdam. A função de dano em questão havia sido incorporada na quinta e atual versão dos cenários de longo prazo do grupo. A próxima versão, a sexta, trará as correções e novos parâmetros.

Este movimento reforça o caráter dinâmico e em evolução da análise de riscos climáticos no coração do sistema financeiro global, mostrando a disposição das autoridades em corrigir rotas e basear decisões críticas na melhor ciência disponível.