Inflação quase zero em outubro: IPCA tem menor alta em 30 anos
IPCA de outubro tem menor alta em quase 30 anos

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal termômetro da inflação oficial no Brasil, surpreendeu o mercado com uma variação mínima de apenas 0,09% em outubro de 2025, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, 11 de novembro.

Este resultado representa a menor alta para o mês de outubro em quase três décadas, marcando um momento significativo na trajetória inflacionária do país. Com essa desaceleração, o indicador acumulado em doze meses recuou de 5,17% em setembro para 4,68% em outubro.

Meta de inflação ainda distante

Apesar da expressiva desaceleração, o índice permanece acima do limite máximo da meta estabelecida pelo Banco Central, que tem como objetivo central 3% e tolera variações de até 4,5%. Entretanto, o atual patamar coloca o país consideravelmente mais próximo desse teto do que em meses anteriores.

O cenário atual fortalece as projeções de analistas que já consideram possível que a inflação encerre 2025 dentro do limite máximo da meta, uma perspectiva que parecia improvável até recentemente. Contudo, especialistas mantêm cautela quanto à convergência sustentável para o centro da meta.

Serviços pressionam e Selic deve permanecer estável

Um dos pontos de atenção destacado pelos economistas é o comportamento da inflação de serviços, que continua apresentando alta consistente, operando na faixa dos 5,6% ao ano, desconectada da deflação observada em alimentos e bens industriais.

Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, enfatizou em relatório que "as pressões inflacionárias continuam intensas", apontando para um contexto de dinâmica inflacionária ainda desafiadora, com expectativas desancoradas e mercado de trabalho aquecido.

O banco americano ressalta que os efeitos dos juros elevados já começam a aparecer nos indicadores, criando gradualmente condições para o início de um ciclo de normalização moderada da política monetária no começo de 2026.

Projeções para 2026 indicam cenário mais desafiador

O banco C6 sinalizou que deve revisar suas projeções para a inflação de 2025, atualmente em 5%, considerando a possibilidade de encerrar o ano dentro da faixa de tolerância da meta. Claudia Moreno, economista do banco, atribui parte dessa melhora ao comportamento do câmbio, que permitiu recuos importantes nos preços de alimentos e bens industriais.

Contudo, as perspectivas para 2026 apontam para um IPCA mais pressionado, influenciado pelo mercado de trabalho aquecido e pela expectativa de um dólar mais forte. Isso reforça a projeção de que a taxa Selic seja mantida em 15% até o final de 2025, com início do ciclo de cortes apenas em março do ano seguinte.

José Francisco de Lima Gonçalves, professor da FEA-USP, ressalta que os núcleos de inflação, que excluem itens mais voláteis, apresentaram variação de 0,23% em outubro, mais que o dobro do resultado oficial de 0,09%. Segundo o economista, "há pouco que ajude de modo relevante a reforçar a lenta desinflação em curso".