O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira, 19 de dezembro de 2025, um retrato detalhado da concentração econômica no país. Os dados do estudo PIB dos Municípios 2022-2023 revelam que apenas 25 cidades foram responsáveis por mais de um terço de toda a riqueza gerada no Brasil em 2023.
As capitais e a concentração histórica do PIB
O tradicional triunvirato formado por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília segue no topo do ranking, posição que mantêm desde o início da série histórica, em 2002. No entanto, conforme explica o analista do IBGE, Luiz Antonio do Nascimento de Sá, essas cidades vêm perdendo participação de forma gradual ao longo dos anos.
Em 2023, essas 25 cidades de maior PIB representaram, juntas, 34,2% do Produto Interno Bruto nacional, que é a soma de todos os bens e serviços produzidos. A lista inclui 11 capitais, além de nove municípios paulistas, quatro fluminenses e um mineiro. Quando se amplia o foco para as 100 cidades mais ricas, a concentração salta para 52,9% do PIB brasileiro.
As capitais, incluindo o Distrito Federal, responderam por 28,3% da economia, enquanto os municípios que não são capitais foram responsáveis por 71,7%. O bom desempenho do setor de serviços foi crucial para que algumas capitais aumentassem sua fatia no bolo econômico no último ano.
Quem ganhou e quem perdeu participação no PIB
São Paulo registrou o maior ganho de participação, com um avanho de 0,4 ponto percentual, alcançando a marca de 9,7% do PIB nacional. Na sequência, Brasília, Porto Alegre e Rio de Janeiro tiveram aumentos de 0,1 ponto percentual cada. Belo Horizonte também apresentou variação positiva próxima a 0,1 p.p., mantendo-se entre as capitais com maior peso econômico.
Por outro lado, a lista das 30 cidades que mais perderam participação traz um padrão preocupante. Sete municípios tiveram perdas diretamente relacionadas à atividade de extração de petróleo, ocupando inclusive os cinco primeiros lugares desse ranking negativo: Maricá (RJ), Niterói (RJ), Saquarema (RJ), Ilhabela (SP) e Campos dos Goytacazes (RJ). Outros nove municípios, cuja principal atividade é a indústria de transformação, também viram sua participação no PIB diminuir.
A disparidade do PIB per capita: do petróleo à pobreza extrema
Os dados sobre a riqueza por habitante escancaram as profundas desigualdades regionais. Curiosamente, as seis cidades com maior PIB per capita estão vinculadas à extração e refino de petróleo, mesmo em um contexto de queda na participação nacional dessa commodity.
"É curioso observar que os municípios no topo dessa lista estão ligados ao petróleo mesmo num contexto desfavorável. Mas alguns campos de petróleo entraram em produção. Embora nacionalmente essa atividade extrativa tenha perdido participação, alguns campos começaram a operação em 2023, beneficiando algumas cidades", comentou o analista do IBGE.
Saquarema, no Rio de Janeiro, liderou o ranking com um valor impressionante de R$ 722,4 mil por habitante. Entre as capitais, o maior PIB per capita foi o de Brasília, com R$ 129,8 mil, valor 2,41 vezes superior à média nacional de R$ 53,9 mil.
Na outra ponta da tabela, a realidade é brutal. O município de Manari, em Pernambuco, apresentou o menor PIB per capita do país, com apenas R$ 7.201,70 por pessoa. A pobreza extrema se concentra em uma única região: quatro dos cinco menores PIBs per capita estavam no estado do Maranhão. Os municípios de Nina Rodrigues (R$ 7.701,32), Matões do Norte (R$ 7.722,89), Cajapió (R$ 8.079,74) e São João Batista (R$ 8.246,12) completam esse triste quadro.
O estudo do IBGE, realizado em parceria com os órgãos estaduais de estatística, Secretarias Estaduais de Governo e a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), serve como um importante termômetro para políticas públicas, evidenciando a necessidade de estratégias de desenvolvimento que combatam a alta concentração de riqueza e promovam uma distribuição econômica mais equilibrada pelo território nacional.