Candidatos que realizaram a prova teórica para residência médica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no último domingo (30) relataram uma série de problemas graves durante a aplicação do exame. O processo seletivo, considerado crucial para a carreira dos médicos, ocorreu no campus da Universidade São Judas, na Mooca, zona leste da capital paulista, e foi marcado por falhas de segurança e organização que levaram os participantes a pedirem a anulação da avaliação.
Problemas de segurança e envelopes violados
Entre as denúncias mais sérias recebidas pelo g1 está a distribuição de envelopes de prova e folhas de resposta sem lacre em diversas salas. Estudantes de pelo menos três ambientes (53, 59 e 88) confirmaram a situação. Uma médica de São Paulo, candidata à psiquiatria, descreveu o momento de tensão: a fiscal anunciou que o envelope estava aberto, causando um "surto coletivo" entre os participantes, que lembraram do cancelamento da prova da Santa Casa em 2023 por suspeita de fraude.
Um candidato vindo de Salvador, que fez a prova na sala 59, também encontrou o pacote com as folhas de resposta violado. Ele destacou a quebra da isonomia, princípio básico de concursos. "Quando vê algo assim, você fica sem reação", desabafou. Segundo os relatos, um coordenador orientou os alunos a fazerem a prova e depois recorrerem à Comissão de Residência Médica (Coreme) da universidade.
Falta de padrão no recolhimento de celulares e desorganização
Outra irregularidade apontada foi a falta de sacos plásticos para lacrar celulares, contrariando o próprio edital do concurso. Em algumas salas, os fiscais apenas pediram que os aparelhos fossem desligados e guardados nas bolsas, sem qualquer procedimento de vedação ou recolhimento. Uma candidata de Belém, que viajou especificamente para a prova, contou que, na sala 53, algumas pessoas chegaram a realizar o exame com o telefone no bolso.
A desorganização se estendeu ao controle de entrada. Candidatos afirmaram que pessoas ainda adentravam as salas até às 12h30, mesmo com os portões fechando às 12h e o início da prova previsto para as 13h. Essa falta de controle comprometeu o período de confinamento padrão antes do exame.
Queda de energia gera tratamento desigual entre salas
No fim da tarde, uma queda de energia no prédio da São Judas afetou a iluminação, a ventilação e os elevadores. O problema, no entanto, não foi tratado de forma uniforme. Enquanto alguns candidatos tiveram a prova interrompida e receberam tempo extra, outros precisaram continuar no escuro, sem qualquer compensação pelo prejuízo. Estudantes reclamaram da falta de comunicação clara sobre a reposição dos minutos.
Frustração após anos de preparação e busca por justiça
A taxa de inscrição de R$ 660 e os anos de dedicação exclusiva aos estudos tornam a situação ainda mais frustrante para os médicos. A candidata de Belém expressou sua decepção: "É uma frustração sem precedentes". O concurrente de Salvador ressaltou que dedicou dois anos de sua vida ao processo.
Diante dos fatos, mais de 200 candidatos se organizaram em um grupo nas redes sociais e pretendem entrar com uma ação judicial para anular a prova. Alguns já formalizaram denúncias na Polícia Civil, no Coreme/Unifesp e no Ministério da Educação.
Posicionamento da Unifesp
Procurada, a Unifesp emitiu uma nota reconhecendo a "notificação de dois envelopes com provas que não estavam lacrados". A universidade afirmou que todo o material foi transportado em carro-forte, dentro de caixas lacradas, e que as caixas em questão não apresentavam sinais de violação. Sobre a queda de energia, a instituição garantiu que "todas as salas afetadas tiveram o tempo de prova devidamente prorrogado" pelo período exato da interrupção. A Unifesp reiterou seu compromisso com a lisura e a segurança do processo seletivo.