O ano de 2025 foi um período de desafios intensos e conquistas significativas para o setor cafeeiro brasileiro. A ameaça de pesadas tarifas impostas pelos Estados Unidos, o principal cliente, gerou grande apreensão, mas após negociações, o cenário se reverteu. Combinado a uma safra abaixo do esperado e à volatilidade dos preços, o momento testou a resiliência do agronegócio do café. No entanto, as cotações se mantiveram em patamares elevados, garantindo receitas positivas e mantendo a competitividade internacional do produto nacional.
O desafio do 'tarifaço' e a reversão no último momento
O chamado 'tarifaço' anunciado pelo então presidente norte-americano Donald Trump foi, sem dúvida, o grande vilão do segundo semestre de 2025 para o mercado de café. Os Estados Unidos importam, em média, 8 milhões de sacas de café do Brasil por ano, volume que representa mais de 30% do consumo do país. A medida ameaçava diretamente a competitividade do produto brasileiro, preferido pelos consumidores norte-americanos por suas características sensoriais ideais para os blends locais.
Segundo Luiz Fernando dos Reis, superintendente comercial da cooperativa Cooxupé, a mobilização foi imediata. "A medida mobilizou toda a cadeia produtiva, tanto no Brasil quanto no mercado norte-americano", afirmou. O grande temor era o médio e longo prazo: uma safra maior sem acesso ao principal mercado consumidor poderia causar dificuldas na realocação do volume e enfraquecer o poder de negociação.
O esforço conjunto de entidades de classe e parceiros comerciais conseguiu demonstrar o impacto negativo da tarifa, resultando na reabertura do mercado para novas tratativas, o que trouxe alívio generalizado ao setor.
Clima, preços voláteis e a nova lei europeia
Além da tensão tarifária, o ano foi marcado por outros obstáculos. A expectativa inicial por uma boa safra foi frustrada por um pegamento abaixo do esperado e pela falta de chuvas durante o desenvolvimento dos grãos, o que reduziu o rendimento. Paralelamente, a forte oscilação dos preços na Bolsa de Nova York e no mercado físico levou as cotações a recordes históricos, criando um ambiente de alta volatilidade.
Outro tema de destaque foi a legislação europeia contra o desmatamento (EUDR), que esteve em debate durante todo o ano. A Cooxupé, assim como outros exportadores, atua no desenvolvimento de uma plataforma única para fornecer as informações exigidas pela nova norma. A cooperativa conta com um departamento de Geoprocessamento para subsidiar esses dados. O Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo, mas o consenso é de que ainda serão necessários ajustes e um período de adaptação, que pode levar mais um ano, para evitar entraves comerciais.
Resultado positivo e estratégias para o futuro
Apesar dos percalços, o balanço final de 2025 foi muito favorável. As exportações da Cooxupé alcançaram uma receita recorde histórica. Os bons preços permitiram que a cooperativa repassasse, em média, 90% do valor obtido nas exportações diretamente aos produtores cooperados, cumprindo seu objetivo central de gerar retorno justo.
O período de incerteza com os EUA também acelerou a busca por novos mercados, embora a abertura de destinos alternativos seja um processo complexo. A cooperativa tem focado em apresentar o valor do café brasileiro a clientes em países emergentes, que apresentam grande potencial de crescimento no consumo.
A sustentabilidade segue como pilar central. Em 2024, 42% do volume faturado pela Cooxupé já contava com algum tipo de selo, certificação ou protocolo de rastreabilidade. A demanda por transparência é vista como uma tendência irreversível. Para o futuro, a recomendação aos produtores é aproveitar o momento favorável para criar reservas, investir em irrigação e mecanização, e manter disciplina comercial, já que o mercado continua suscetível a volatilidade e a ciclos influenciados por outros países produtores.