Trump investiga frigoríficos por preços altos da carne nos EUA
Trump investiga frigoríficos por preços da carne

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou uma investigação federal contra os maiores frigoríficos do país, incluindo empresas brasileiras, por suspeitas de que estariam formando um cartel para elevar artificialmente os preços da carne para os consumidores americanos.

Investigação antitruste contra gigantes do setor

Na sexta-feira (7), a Casa Branca anunciou que Trump solicitou ao Departamento de Justiça americano que investigue as quatro maiores empresas do setor de carnes do país. JBS, National Beef (controlada pela Marfrig), Cargill e Tyson Foods são acusadas de dominar 85% do mercado nacional, segundo estudo de 2024 do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

O governo americano afirma em comunicado que essas empresas vêm pressionando os pecuaristas norte-americanos, reduzindo rebanhos e aumentando os preços nos supermercados. A investigação vai apurar se as companhias violaram leis antitruste ao combinar preços ou limitar a produção deliberadamente.

Entre 1980 e 1990, a fatia de gado comprada por esses frigoríficos passou de um terço para mais de 80% do rebanho nacional, segundo dados oficiais. "Isso levou à exploração de consumidores, agricultores e pecuaristas americanos", destaca o comunicado governamental.

Setor se defende e aponta outros fatores

O Meat Institute, que reúne representantes da indústria, incluindo Tyson Foods e JBS nos EUA, rebateu as acusações em comunicado. A entidade afirma que o setor opera com prejuízos há mais de um ano devido à escassez de bois e alta demanda.

"Apesar dos preços altos ao consumidor, os processadores de carne estão perdendo dinheiro devido ao valor recorde do gado", sustenta o instituto. A organização também defende que o mercado de carne é altamente regulado e que as transações são transparentes.

O setor alega que o governo tem acesso aos dados do USDA que comprovam "perdas catastróficas" no segmento, que devem se manter até 2026. Além disso, argumentam que os preços seguem a lógica normal de oferta e demanda.

Cenário complexo no mercado de carnes

Os estoques de gado dos EUA caíram em janeiro para o nível mais baixo em quase 75 anos, após fazendeiros reduzirem seus rebanhos devido a uma seca prolongada que queimou pastagens e aumentou custos de alimentação.

A situação se agravou com a suspensão, desde maio, da maioria das importações de gado mexicano devido a preocupações com a disseminação da bicheira-do-Novo-Mundo, uma praga carnívora que infesta o gado.

Em agosto, os EUA aplicaram uma tarifa de 50% sobre diversos produtos brasileiros exportados para o país, incluindo carne. O Brasil é o principal fornecedor de carne para a indústria norte-americana, especialmente para produtos como hambúrgueres.

Apesar de serem grandes produtores, os Estados Unidos ainda precisam importar carne para suprir a demanda interna, que se manteve firme, contribuindo para o aumento dos preços.

Descontentamento entre pecuaristas americanos

Os pecuaristas norte-americanos já criticavam Trump desde outubro, quando o presidente sugeriu que o país importasse mais carne bovina da Argentina para reduzir os preços recordes nos EUA.

Os produtores interpretaram a medida como uma ameaça em um momento em que finalmente lucram com os preços altos do gado e a forte demanda dos consumidores americanos.

Trump respondeu às críticas nas redes sociais, afirmando que os pecuaristas "estão em uma boa condição econômica graças ao tarifaço imposto ao Brasil e outros países". Em sua publicação, o presidente declarou: "Os pecuaristas, que eu amo, não entendem que a única razão pela qual estão indo bem, pela primeira vez em décadas, é porque eu impus tarifas sobre o gado que entra nos EUA, incluindo uma tarifa de 50% sobre o Brasil".

A procuradora-geral dos EUA, Pamela Bondi, confirmou que o processo investigativo já está em andamento. Segundo reportagem do The New York Times, tentativas anteriores de quebrar o domínio dos quatro grandes frigoríficos no mercado americano já falharam no passado.