Uma história de amor incomum, nascida no silêncio de um convento, reescreveu os destinos de uma freira e de um monge que dedicaram décadas de suas vidas à fé. Após um encontro fortuito e um simples toque, Lisa Tinkler, conhecida por 24 anos como Irmã Mary Elizabeth, e Robert, um frade carmelita, tomaram a decisão de abandonar a vida monástica para construírem uma vida juntos.
Uma vida de clausura e um toque que mudou tudo
Lisa entrou para a ordem carmelita aos 19 anos, após sentir uma vocação religiosa desde a infância. A vida no mosteiro em Preston, no noroeste da Inglaterra, era espartana, reclusa e silenciosa. Ela passava a maior parte dos dias enclausurada em um pequeno quarto, com recreações de apenas meia hora para conversar. O contato com o mundo exterior era mínimo, incluindo visitas da mãe através de uma grade.
Em 2015, um evento corriqueiro virou seu mundo de cabeça para baixo. A prioresa a apresentou ao frade Robert, que visitava o convento, e os deixou sozinhos por um momento. Ao despedi-lo, Lisa esbarrou acidentalmente no braço dele. "Eu apenas senti uma química, algo, e fiquei um pouco envergonhada", ela relembra. A sensação foi tão forte que a deixou confusa.
Cerca de uma semana depois, ela recebeu uma mensagem direta de Robert: ele perguntava se ela deixaria o convento para se casar com ele. A pergunta a chocou, pois eles mal se conheciam. Robert nem sabia seu nome de batismo ou a cor de seu cabelo, sempre coberto pelo véu.
A difícil transição para o mundo exterior
Confusa e assustada com seus próprios sentimentos, Lisa finalmente confessou à prioresa o que estava acontecendo. A resposta foi de descrença, questionando como um romance poderia brotar com tão pouco contato. A reação da superiora a levou a uma decisão impulsiva. Ela pegou algumas roupas e uma escova de dentes e deixou o convento para sempre, em uma noite chuvosa de novembro de 2015.
O reencontro dos dois foi tenso e cheio de medo. Lisa encontrou Robert em um pub local, encharcada e ainda vestindo seu hábito. "Quando a vi, meu coração parou", disse Robert, que também estava aterrorizado com a perspectiva de começar uma nova vida aos 53 anos, após 13 anos como frade.
A adaptação ao mundo fora dos muros do mosteiro foi dolorosa e cheia de lágrimas. Eles choraram ao tentar listar suas "habilidades transferíveis" em uma agência de empregos e tiveram que parar o carro na estrada para chorar, emocionados com histórias de outras pessoas que haviam deixado a vida religiosa. Robert recebeu uma carta de Roma confirmando sua expulsão da ordem carmelita, um golpe difícil.
Uma nova vida, com a fé ainda no centro
Apesar das dificuldades, o que os manteve firmes foi a mesma força que os levou ao monasticismo: sua fé pessoal. Lisa percebeu que seu coração, antes dedicado inteiramente a Deus, agora se expandia para incluir Robert, sem diminuir seu amor divino. "Cristo está no centro e vem antes de tudo. Se o retirássemos da equação, acho que não teria durado muito", reflete Lisa sobre o casamento.
Eles se casaram e hoje vivem em Hutton Rudby, North Yorkshire, onde Robert foi nomeado vigário de uma igreja anglicana. Lisa trabalhou em uma funerária e depois como capelã hospitalar. Ainda sentem saudades do silêncio e da rotina monástica. Lisa admite que, se não fosse por Robert, voltaria a ser freira carmelita. Ambos veem seu lar como uma extensão de seu monastério, onde a oração e a dedicação a Deus continuam fundamentais.
A jornada de Lisa e Robert é um testemunho incomum sobre amor, fé e a coragem de recomeçar, mostrando que os caminhos da vida podem tomar direções inesperadas, mesmo após décadas de convicção.