Ex-chefe de Dom Pérignon cria saquê IWA 5 no Japão e rótulo chega ao Brasil
Ex-chefe de Dom Pérignon cria saquê IWA 5 no Japão

Um dos nomes mais respeitados do mundo dos champagnes decidiu se aventurar em um território completamente novo. Após quase três décadas como chefe de cave da lendária Dom Pérignon, o francês Richard Geoffroy se aposentou e embarcou em um projeto ousado: produzir saquê no Japão. O resultado dessa jornada é o IWA 5, um rótulo que acaba de desembarcar no Brasil e já causou furor entre os apreciadores.

Da Champagne às Montanhas Sagradas do Japão

A paixão de Geoffroy pelo Japão nasceu durante suas frequentes viagens ao país a trabalho. Aos 64 anos, longe de pensar em uma aposentadoria tranquila, ele buscou um novo desafio. Escolheu a província de Toyama, ao lado do sagrado Monte Tate, para instalar sua fábrica, a Shiraiwa. O local não foi escolhido por acaso: a água utilizada na produção vem do degelo da montanha e arrozais são cultivados dentro da própria propriedade.

Para concretizar seu visionário projeto, Geoffroy reuniu uma equipe de peso. O arquiteto Kengo Kuma desenhou o prédio, inspirado nos tradicionais armazéns kura. O designer Marc Newson, conhecido por seu trabalho na Apple, criou a garrafa. E a expertise na produção ficou a cargo de Ryuichiro Masuda, da histórica fabricante Masuda Shuzo, fundada em 1893.

A Revolução no Copo: Técnicas de Champagne no Saquê

A grande inovação do IWA 5 está na aplicação de métodos consagrados na produção de champagne, mas raríssimos no universo do saquê. Geoffroy utiliza a técnica da assemblage, que consiste na mistura de diferentes lotes para criar um perfil único, e promove a maturação em garrafa – esta última, uma verdadeira novidade no segmento.

"Geoffroy adotou uma postura de humildade e respeito às tradições, mas também está tentando trazer algo novo", explica Julia Fitzroy, vice-presidente da IWA para as Américas. A proposta é lançar um assemblage diferente a cada ano, variando tipos de arroz, leveduras (koji) e tempo de maturação.

O quinto assemblage, atualmente no mercado, foi elaborado com três variedades de arroz (Yamada Nishiki, Omachi e Gohyakumangoku), polidas a 35%, e cinco leveduras. O blend final reúne 20 componentes, sendo 90% de saquês jovens e 10% maturados, e descansa por 16 meses em garrafa antes de ser comercializado.

Chegada Triunfal ao Brasil e Harmonização

A recepção no Brasil foi estrondosa. O primeiro lote trazido pela importadora Élevage esgotou em menos de seis horas. "A recepção foi muito maior do que esperávamos. Nem conseguimos colocar o saquê no site", revela Eric Polakiewicz, sócio-diretor da importadora. Cada garrafa de 750 ml tem um preço de R$ 1.600 para o consumidor final.

Por enquanto, o único ponto de venda no país é o restaurante Kanoe, do chef Tadashi Shiraishi, nos Jardins, em São Paulo. Shiraishi, que já conhecia e admirava o rótulo no Japão, harmonizou o saquê no lançamento com um prato especial: um Bara-Tirashi, uma versão colorida do clássico, com cubos de pepino, atum, robalo, vieira e omelete japonês sobre shari e ikura (ovas de salmão).

O chef, no entanto, acredita que o potencial do IWA 5 vai muito além da culinária japonesa. "É um saquê pronto para dialogar com o mundo", afirma. A bebida se mostra versátil: servida fria, apresenta aromas frutados e florais com textura densa; quando aquecida a 45°C, revela notas lácteas e acidez mais pronunciada.

O sexto assemblage já está produzido e tem previsão de chegar ao mercado brasileiro em meados de março, dando continuidade à ousada empreitada do mestre champanheiro que decidiu reinventar o saquê.