Ana Maria Gonçalves é a 1ª mulher negra na ABL aos 54 anos
Ana Maria Gonçalves: primeira mulher negra na ABL

Histórica posse na Academia Brasileira de Letras

A escritora Ana Maria Gonçalves realizou nesta terça-feira sua posse na Academia Brasileira de Letras (ABL), tornando-se a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na instituição em seus mais de 125 anos de existência.

O momento marcante aconteceu durante cerimônia tradicional, onde a autora cumpriu todos os rituais característicos da academia: assinou o livro de posse, vestiu o colar verde escuro e recebeu das mãos do cantor e também imortal Gilberto Gil o diploma oficial.

Emoção centenária e compromisso com a diversidade

A emoção tomou conta do ambiente quando Ana Maria recebeu o documento, em uma cena que parecia carregar o peso de mais de um século de espera por representatividade. "Estou feliz esta noite, uma noite marcante não só para mim, mas para muita gente que tem expectativa sobre essa cadeira aqui", declarou a nova imortal.

Gilberto Gil, que entregou o diploma, não poupou elogios: "Ela é uma grande escritora e uma grande pensadora, uma grande militante da causa pela igualdade, pela liberdade".

Aos 54 anos, Ana Maria Gonçalves se tornou também a mais jovem integrante da ABL. Natural de Minas Gerais, ela construiu inicialmente carreira como publicitária em São Paulo, antes de abandonar tudo para se dedicar exclusivamente à literatura e pesquisa na Bahia.

Trajetória literária e reconhecimento

Sua obra mais conhecida, "Um Defeito de Cor", publicada em 2006, é considerada um dos romances mais importantes do século XXI. O livro reconstrói ficcionalmente a trajetória de Luiza Mahin, figura histórica e mítica da liderança negra brasileira, que participou ativamente da Revolta dos Malês.

A relevância da obra foi recentemente celebrada no Carnaval de 2024, quando se tornou tema da escola de samba Portela. Curiosamente, o fardão usado por Ana Maria em sua posse foi confeccionado pelas mesmas costureiras da azul e branca de Madureira.

Como a 13ª mulher eleita para a ABL, Ana Maria Gonçalves assumirá a cadeira de número 33, que ao longo da história teve apenas 5 ocupantes, todos homens.

Discurso de posse e promessa de mudanças

Em seu discurso oficial, a escritora fez questão de homenagear o talento de outras mulheres que tentaram, sem sucesso, vencer as resistências e ocupar uma vaga na academia.

"Assumo para mim como uma das missões promover a diversidade nesta casa e fazer avançar as coisas nas quais nela eu sempre critiquei, como a falta de diversidade na composição de seus membros, uma abertura maior para o público, o verdadeiro dono da língua que aqui cultivamos e um maior empenho na divulgação e na promoção da literatura brasileira", afirmou com determinação.

A posse de Ana Maria Gonçalves representa não apenas um marco pessoal, mas um avanço significativo para a diversidade e representatividade no cenário cultural e literário brasileiro.