O poder de congelar um instante no tempo e transformá-lo em memória eterna é a força motriz por trás do trabalho do fotógrafo e jornalista Adriano Kirihara, natural de Presidente Prudente, no interior de São Paulo. Com uma trajetória que mescla paixão de infância e profissionalismo há mais de 25 anos, ele coleciona registros impressionantes da fauna brasileira e mundial, incluindo o privilégio raro de batizar uma baleia na Antártica.
Da chácara à Antártica: uma jornada de encontros únicos
A conexão de Adriano com a fotografia começou cedo, durante sua criação em uma chácara, imerso na natureza. Há 12 anos atuando como fotógrafo profissional, ele sempre se afastou dos eventos convencionais, encontrando sua verdadeira vocação no registro documental e contemplativo do mundo natural. "O que sempre me chamou foi a fotografia de natureza, de turismo contemplativo e documental, aquela que pede tempo, silêncio e escuta", explica o fotógrafo ao g1.
Essa filosofia o levou a diversos cantos do Brasil e do mundo, moldando sua autodefinição atual como um "fotodocumentarista das belezas naturais e humanas". Para ele, mostrar o que é belo e verdadeiro é um ato de preservação. Foi com esse espírito que, em 2019, uma expedição à Antártica resultou em um marco em sua carreira.
Fredi: a baleia com nome de filho
Durante a viagem ao continente gelado, Kirihara registrou a imagem de uma baleia que seria submetida ao projeto Baleia à Vista e, posteriormente, ao sistema internacional de monitoramento Happywhale. Por ter sido o primeiro a fotografar aquele indivíduo específico, ele ganhou o direito de batizá-lo oficialmente no sistema.
O animal recebeu o nome de "Fredi", uma homenagem carinhosa aos seus dois filhos, Frederico e Diogo. Desde então, a baleia Fredi já foi reencontrada e fotografada por outros profissionais pelo menos 16 vezes, sempre nas águas da Antártica e proximidades, comprovando a importância do monitoramento contínuo. "Funciona, na prática, como uma certidão de nascimento", comenta o fotógrafo sobre o registro permanente no Happywhale.
O olhar documental sobre a fauna ameaçada
Além dos gigantes antárticos, o acervo de Adriano Kirihara é repleto de registros nacionais de alto valor para a conservação. Ele já capturou a beleza do mico-leão-preto no Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio (SP), um crucial remanescente de Mata Atlântica.
Outro momento marcante foi fotografar a arara-azul-de-lear, espécie endêmica do sertão baiano cuja população em vida livre é estimada em pouco mais de 2 mil indivíduos. "Um animal simbólico, que, por muito tempo, esteve à beira do desaparecimento", relembra. Sua lente também já focou espécies vulneráveis, como o tamanduá-bandeira e seu filhote, reforçando a urgência da documentação. "Infelizmente, a lista de animais em risco só cresce", alerta.
Fotografia como antídoto contra o esquecimento e a IA
Em suas expedições, Adriano frequentemente se depara com um lado menos poético da relação humana com a natureza: o lixo deixado para trás em trilhas e áreas de ecoturismo. Ele vê na fotografia uma ferramenta poderosa para provocar reflexão sobre essas pequenas ações destrutivas. "É sobre o que cada um faz quando ninguém está olhando", pondera.
Diante do avanço da Inteligência Artificial (IA), o fotodocumentarista reforça o valor inestimável do registro fiel. Ele não é contra a tecnologia, mas alerta para um futuro em que as gerações podem ter dificuldade em distinguir o real do artificial. "A fotografia documental ganha ainda mais importância", defende. Para Kirihara, seu ofício é, antes de tudo, um ato humilde de preservar o mundo como ele é, criando memória e construindo referências para histórias que, de outra forma, se perderiam no tempo.