Petrobras anuncia plano de US$ 109 bi com corte em dividendos e mais produção
Petrobras: novo plano com corte em dividendos e produção

A Petrobras divulgou seu novo plano estratégico para os próximos cinco anos, estabelecendo um caminho de investimentos de US$ 109 bilhões (cerca de R$ 581,4 bilhões) entre 2024 e 2028. O anúncio foi feito na última quinta-feira (27) e representa uma redução nos investimentos em comparação com o plano anterior, que previa US$ 111 bilhões.

As medidas incluem aumento na produção de petróleo e menor distribuição de dividendos aos acionistas. A estratégia foi desenhada para enfrentar a expectativa de queda no preço do petróleo Brent, commodity que serve como parâmetro global para a precificação do produto.

Desafios do cenário atual

A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, explicou em entrevista coletiva na sexta-feira (28) que a empresa enfrenta um cenário desafiador com a instabilidade nos preços do petróleo. "Os desafios aumentam. Estamos em um mundo instável, e o preço do petróleo flutua", afirmou a executiva.

Chambriard revelou que houve uma redução significativa no preço por barril desde o ano passado. "Hoje temos 75% do valor do Brent, que é o que nos remunera, em relação a 2024", completou.

Para enfrentar essa realidade, a estatal planeja racionalizar e simplificar projetos. "Estamos voltando para a prancheta com alguns projetos que já estavam mais avançados justamente para trabalhar nas suas simplificações, otimizando gastos", explicou a presidente.

Investimentos e aumento de produção

Do total de US$ 109 bilhões em investimentos classificados como Capex, US$ 91 bilhões serão aplicados em projetos já em execução, enquanto US$ 18 bilhões estão destinados à Carteira em Avaliação - iniciativas que ainda passam por estudos e análises antes de avançar.

A Petrobras projeta que a produção de petróleo alcance 2,7 milhões de barris por dia em 2028, representando um aumento de 200 mil barris por dia em relação à estimativa para 2026 (2,5 milhões) e 100 mil acima da previsão para 2027 (2,6 milhões). A expectativa é que a produção se mantenha nesse patamar até 2034.

Analistas apontam que o plano busca enfrentar a queda prevista nos preços do Brent com maior flexibilidade nos investimentos, aumento da produção e redução de despesas.

Novo mecanismo de seleção de projetos

O plano estabelece um novo mecanismo que separa projetos com orçamento aprovado daqueles que ainda precisam passar por análise de financiabilidade. "Separamos os projetos maduros dos que ainda serão avaliados. Eles vão concorrer entre si, e escolheremos os que trazem maior retorno para a companhia", explicou Chambriard.

A expectativa é que a empresa reveja esses projetos a cada três meses, avaliando disponibilidade de caixa, necessidade de retorno e a viabilidade financeira dessas iniciativas. "É o que vamos fazer para garantir a financiabilidade e a adequação desses projetos a uma futura realidade de mercado", completou a presidente.

Redução nos dividendos

Para dividendos, a estimativa é de pagamentos entre US$ 45 bilhões e US$ 50 bilhões (R$ 240 bilhões a R$ 266,7 bilhões) nos próximos anos. O valor é menor que o previsto no plano anterior, que projetava entre US$ 45 bilhões e US$ 55 bilhões.

Além disso, a empresa também não prevê mais dividendos extraordinários - que, no plano anterior, estavam estimados entre US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões.

Segundo o diretor financeiro da Petrobras, Fernando Melgarejo, esse cenário reflete a expectativa de preços mais baixos do Brent. "A expectativa de produção é a que temos aqui [no plano]. A dúvida, é o Brent. Como todo mundo tem um consenso de que o Brent não está em uma visão altista no curto prazo, muito provavelmente não teremos dividendos extraordinários nos próximos períodos", afirmou o diretor.

Foco no Pré-sal e exploração

O plano destina US$ 69,2 bilhões à Carteira de Implantação para exploração e produção. A distribuição desses recursos será:

  • 62% para projetos no Pré-sal
  • 24% em campos do Pós-sal
  • 10% alocados em exploração
  • 4% relacionados a terra, águas rasas, ativos no exterior e projetos de descarbonização

De acordo com Chambriard, a manutenção da produção entre 2027 e 2030 deverá ser mantida por "desenvolvimento complementar". "Isso significa novos poços perfurados nas mesmas plataformas, substituindo os poços que perderam suas produtividades. É trocar os poços menos produtivos pelos mais produtivos", explicou.

O plano também prevê investimentos na Margem Equatorial, onde a Petrobras deve perfurar mais um poço. A diretora-executiva de exploração e produção, Sylvia Maria Couto dos Anjos, explicou que a empresa está perfurando o poço Morpho, localizado na Foz do Amazonas, e depois seguirá para o Rio Grande do Norte perfurar o terceiro poço na região.

Segundo ela, o objetivo é somá-lo aos dois já descobertos na região, garantindo volume suficiente para justificar uma unidade de produção. "Furamos dois poços, todos com óleo. Mas ainda precisamos otimizar [os volumes para justificar os custos]. Esse terceiro poço pode complementar os outros dois ou, sozinho, justificar a produção", completou.

As projeções da Petrobras indicam que o preço do Brent deve ficar em US$ 63 por barril em 2026 e subir para algo em torno de US$ 70 nos anos seguintes até 2030, cenário que justifica as medidas de contenção e otimização anunciadas no novo plano estratégico.