Custos climáticos no Brasil superam R$ 700 bi em 12 anos; setor de seguros propõe soluções
Desastres climáticos custam R$ 700 bi e seguradoras buscam papel ativo

A primeira Conferência das Partes (COP) realizada na Amazônia, em Belém, trouxe à tona a urgência de ações contra os impactos das mudanças climáticas. Enquanto isso, um dado alarmante evidencia a dimensão do problema no Brasil: nos últimos 12 anos, os custos das cidades brasileiras com desastres relacionados ao clima ultrapassaram a marca de R$ 700 bilhões. A informação é do estudo "Panorama dos Desastres no Brasil: 2013 a 2024", elaborado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM).

O peso econômico dos extremos climáticos

O aumento na frequência e intensidade de chuvas prolongadas tem provocado inundações, alagamentos, enxurradas e erosão do solo em todo o país. O estado do Pará, por exemplo, ocupa a quarta posição no ranking nacional de decretos de emergência ou calamidade pública devido às chuvas, com 1.228 registros entre 2013 e 2024. Em 2024, cidades como Rio Maria tiveram situações de emergência reconhecidas pelo governo federal após enchentes deixarem mais de 500 famílias desabrigadas.

Adriana Campelo, coordenadora do Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR), enfatiza que os desastres não são naturais, mas sim socioeconômicos. Ela aponta uma redução na mortalidade global, mas um aumento expressivo nos prejuízos em infraestrutura. "Os recursos públicos não são suficientes para financiar toda a redução de risco de desastre e as ações de prevenção. Então, é muito importante que o setor privado também se responsabilize por isso", destaca.

Os impactos são ainda mais severos na Amazônia. Pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) publicada na revista Nature Communications mostra que os prejuízos anuais causados pela mudança do clima nos estados da Amazônia Legal superam US$ 650 milhões (cerca de R$ 3,44 bilhões). Municípios menores, com menos de 50 mil habitantes, são os mais afetados, com alguns chegando a perder até 300% do PIB local.

O setor segurador como aliado na gestão de riscos

Diante desse cenário, o setor de seguros reforçou seu papel durante a COP30. A Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) apresentou propostas concretas para enfrentar as perdas. Em 2024, o mercado pagou cerca de R$ 7,3 bilhões em indenizações por desastres climáticos, mas, para a entidade, o número ainda é baixo. O setor tem arcado com apenas 15% das perdas totais.

Dyogo Oliveira, presidente da CNseg, explicou que o setor lançou a proposta do Seguro Social de Catástrofe. A ideia é que famílias tenham acesso a uma proteção de baixo custo, estimada em cerca de R$ 3 por mês. "A proposta prevê que as famílias recebam um Pix de R$ 10 mil no dia seguinte à enchente, permitindo que comprem alimentos, busquem alojamento, roupas e medicamentos de forma rápida", afirmou.

Além disso, foi apresentada a Ferramenta de Avaliação de Riscos Climáticos (Inundação), uma plataforma que cruza dados históricos de chuva e informações hidrológicas para mapear e quantificar riscos de inundação em localidades específicas. A CNseg defende que as seguradoras podem atuar tanto na prevenção, com alertas e monitoramento, quanto na resposta, com atendimento emergencial e suporte à recuperação.

O desafio da baixa adesão e exemplos internacionais

Apesar das propostas, o Brasil ainda enfrenta uma baixa adesão a seguros contra eventos climáticos. Dyogo Oliveira cita exemplos de países que avançaram nessa integração: o México possui um programa de seguro de catástrofes há mais de 20 anos, e na França, 97% das casas têm seguros que incluem cobertura para enchentes.

Oliveira também critica a morosidade da ajuda pública. Ele lembra que, no Rio Grande do Sul, famílias afetadas por enchentes em maio só receberam o auxílio de R$ 5 mil do governo em outubro e novembro. Dados da CNM corroboram a deficiência: dos R$ 13 bilhões autorizados pelo governo federal para ações de proteção civil nos últimos 12 anos, apenas R$ 5,3 bilhões (39,8%) foram efetivamente repassados aos municípios.

"Se houvesse um seguro municipal, a seguradora poderia atuar também como consultora, orientando o governo local sobre a necessidade de manutenção de infraestruturas ou sobre a remoção de pessoas de áreas de risco", defende o presidente da CNseg. O relatório "Radar de Eventos Climáticos e Seguros no Brasil" aponta que uma maior participação do setor privado pode reduzir a dependência de recursos públicos, liberando esforços para prevenção e adaptação climática.