Uma trajetória inspiradora que começa na periferia do Ceará e alcança os céus do Maranhão. João Pedro, de apenas 13 anos, natural de Fortaleza e criado em Caucaia, acaba de receber um convite histórico: será o único estudante brasileiro a acompanhar de perto o primeiro lançamento comercial de um foguete em solo nacional. O evento, marcado para 17 de dezembro, no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), representa a estreia do Brasil no mercado global de serviços espaciais.
Um convite celestial e um marco para o Brasil
O convite partiu da empresa aeroespacial sul-coreana INNOSPACE, responsável pelo foguete HANBIT-Nano da missão SPACEWARD. Para João Pedro, que em 2025 foi eleito um dos Top 100 Crianças Prodígios do Mundo, a oportunidade é um sonho que se materializa. "Quando minha mãe me falou que eu ia para Alcântara, fiquei muito feliz. É surreal", comemora o jovem. "O que mais me empolga é ver a parte mecatrônica, os circuitos e testes dos foguetes".
Durante o evento, ele terá acesso exclusivo aos bastidores da operação e promete compartilhar todos os detalhes com seus seguidores. O lançamento é viabilizado pelo Acordo de Salvaguardas Tecnológicas entre Brasil e Estados Unidos, um marco na política espacial brasileira.
Superação: da violência urbana às salas de aula virtuais
A jornada de João Pedro até esse ponto é marcada por resiliência. Ele passou a maior parte da infância em Caucaia, uma das cidades mais violentas do Brasil. Filho de policiais militares, cresceu sob o medo constante da violência urbana. "Quando era pequeno, tinha medo deles morrerem. Caucaia é muito perigosa, tem guerra de facções", relembra.
Além dos desafios externos, João Pedro lidou com questões emocionais por ser neurodivergente. "Não passei dificuldades financeiras, mas emocionais sim, porque eu sou neurodivergente e meu emocional era mais fraco", conta. A mudança para um local próximo à escola em Fortaleza foi um divisor de águas para sua segurança e rotina de estudos.
O despertar de um prodígio: das contas de casa à universidade
O interesse pela ciência surgiu cedo, impulsionado pela curiosidade natural e pelo acesso a vídeos educativos. Durante a pandemia, com apenas 8 anos, ele se aprofundou em matemática e começou a dar aulas em casa para ocupar o tempo. Esse hábito de ensinar evoluiu para a criação de conteúdo. "Com 8 anos, ele já elaborava aulas e gravava vídeos. Mesmo sem alcance, fazia porque amava explicar", relata sua mãe, Sarah Araújo.
Aos 10 anos, o talento excepcional de João Pedro ganhou reconhecimento formal: ele foi aprovado no curso de graduação em Física na Universidade Estadual do Ceará (UECE). Com 11 anos, repetiu o feito e conquistou uma vaga no curso de Matemática da mesma instituição. Seu perfil no Instagram, @jpdasgalaxias, nasceu dessa paixão por ensinar e hoje reúne uma legião de seguidores fascinados por um adolescente que domina e explica conceitos universitários.
Missão: provar que a ciência é para todos
Mais do que acumular conquistas acadêmicas, João Pedro carrega uma missão clara. "Quero mostrar que tudo é possível", afirma. "Um menino que saiu da periferia agora acompanha lançamentos comerciais de foguetes. Ciência é para todos".
Sua presença em Alcântara não será apenas como espectador privilegiado, mas também como divulgador científico. Ele vai produzir conteúdo exclusivo, mostrando os bastidores do lançamento e, assim, inspirando uma nova geração a mirar nas estrelas, independentemente de sua origem. A história de João Pedro é um poderoso testemunho de como o talento, aliado à oportunidade e à determinação, pode ultrapassar qualquer barreira terrestre.