Operação Alvitre II: Vereadores presos com R$ 17 mil e documentos de 'rachadinha'
Operação Alvitre II prende vereadores com R$ 17 mil

Operação Alvitre II desarticula esquema milionário em Ipojuca

O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e a Polícia Civil deflagraram nesta quarta-feira (19) a segunda etapa da Operação Alvitre II, cumprindo três mandados de prisão e 19 de busca e apreensão. A ação visa desarticular uma organização criminosa dedicada ao desvio de recursos públicos do município de Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife.

Prisão em flagrante de vereadores

Na terça-feira (18), mesmo antes da segunda fase da operação, dois vereadores foram presos em flagrante: Flávio do Cartório (PSD), presidente da Câmara Municipal de Ipojuca, e Professor Eduardo (PSD), primeiro vice-presidente da Casa Legislativa. Os parlamentares foram detidos pelo Grupo de Operações Especiais (GOE) dentro de um carro em um supermercado de Boa Viagem, Zona Sul do Recife.

De acordo com o boletim de ocorrência, os vereadores foram encontrados com uma sacola contendo R$ 14.267 em dinheiro vivo. No veículo de Flávio do Cartório, os policiais localizaram uma necessaire com dois envelopes, sendo um vazio e outro com R$ 3.000. Adicionalmente, havia R$ 121 na carteira do presidente da Câmara.

Documentos apreendidos indicam esquema de rachadinha

Durante as buscas, foi apreendida uma pasta com documentos e anotações que continham nomes de servidores da Câmara Municipal de Ipojuca e mencionavam valores que somam R$ 345 mil. Segundo investigações da Polícia Civil, o material sugere o controle mensal de um possível esquema de "rachadinha" ligado ao desvio milionário de emendas parlamentares.

As investigações apontam que Flávio do Cartório já tinha um mandado de prisão em aberto e estava sendo monitorado desde o início da Operação Alvitre. Os vereadores foram levados para a Central de Plantões da Capital, em Campo Grande, Zona Norte do Recife, onde prestaram depoimento.

Segunda etapa da operação

Nesta quarta-feira (19), o Gaeco/MPPE e a Polícia Civil, através da Delegacia de Polícia da 43ª Circunscrição de Porto de Galinhas, intensificaram as ações com:

  • Três mandados de prisão
  • 19 mandados de busca e apreensão domiciliar
  • Ordens judiciais de bloqueio de ativos financeiros
  • Sequestro de bens
  • Suspensão do exercício de função pública

As investigações tiveram início em outubro de 2024, com apoio operacional da Polícia Militar de Pernambuco e unidades de inteligência das instituições envolvidas.

Esquema de desvio de emendas parlamentares

A Operação Alvitre investiga o uso de diversas empresas para desviar verbas de emendas parlamentares impositivas, instrumento utilizado pelos vereadores para destinar parte do orçamento municipal para projetos específicos. Os recursos públicos teriam sido direcionados para associações de fachada localizadas em outros municípios, sem estrutura ou competência técnica para executar os projetos contratados.

Entre as instituições beneficiadas está o Instituto de Gestão de Políticas Públicas do Nordeste (IGPN), que recebeu pelo menos R$ 6,3 milhões de nove emendas parlamentares. Quatro pessoas ligadas ao instituto são investigadas, incluindo duas irmãs presas em outubro e dois foragidos.

O Instituto Nacional de Ensino, Sociedade e Pesquisa (Inesp), que usa o nome de Faculdade Novo Horizonte, também é citado no inquérito como parte do esquema criminoso. A instituição recebeu repasses milionários para cursos de capacitação com planos de trabalho inconsistentes e orçamentos inflados.

Caso trágico ligado às investigações

No dia 28 de outubro, Simone Marques da Silva, professora universitária de 46 anos, foi assassinada no quintal de sua casa horas depois de comparecer à Delegacia de Porto de Galinhas para depor sobre o caso. Ela seria ligada a uma das mulheres investigadas no esquema. Simone havia remarcado seu depoimento para o dia seguinte, mas foi alvejada por tiros antes de testemunhar.

O Partido Social Democrático (PSD) de Pernambuco emitiu nota informando que acompanhará as investigações referentes às prisões dos vereadores filiados e que "assim que o processo legal for concluído, adotaremos as medidas cabíveis". A Câmara de Ipojuca não se manifestou sobre o caso até o fechamento desta reportagem.