O cantor Lindomar Castilho, conhecido como o 'rei do bolero' pelo sucesso estrondoso que fez na década de 1970, faleceu aos 85 anos. A informação foi confirmada pela sua filha, Lili De Grammont, através de uma publicação emocionada e reflexiva em suas redes sociais.
O anúncio da partida e o peso de um passado trágico
Em sua rede social, Lili De Grammont anunciou a morte do pai com palavras carregadas de dor e complexidade. "Meu pai partiu! E como qualquer ser humano, ele é finito", começou ela. A mensagem, no entanto, não ignorou o crime que marcou para sempre a história da família: o feminicídio da mãe dela, a cantora e compositora Eliane de Grammont, em 1981.
Lili escreveu: "Ele é só mais um ser humano que se desviou com sua vaidade e narcisismo. E ao tirar a vida da minha mãe também morreu em vida. O homem que mata também morre. Morre o pai e nasce um assassino, morre uma família inteira". O caso, um dos feminicídios de maior repercussão do país, levou Lindomar Castilho a ser condenado a 12 anos de prisão, mergulhando sua carreira no ostracismo.
Um legado musical ofuscado pela violência
Antes da tragédia, Lindomar Castilho era uma voz proeminente da música brasileira. Ele ficou nacionalmente conhecido como a voz de "Você É Doida Demais", tema de abertura da bem-sucedida série "Os Normais", da TV Globo, estrelada por Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães.
Seu repertório, que conquistou o público nos anos 70, incluía outros sucessos como "Chamarada", "Eu Amo a Sua Mãe" e "Tudo Tem A Ver". O título de 'rei do bolero' era uma prova de sua popularidade e influência no gênero, que foi abruptamente interrompida pelo crime.
O perdão complexo e o desejo de uma segunda chance
Na longa e profunda publicação, Lili De Grammont abordou o difícil tema do perdão. "Se eu perdoei? Essa resposta não é simples como um sim ou não, ela envolve tudo e todas as camadas das dores e delícias de ser, um ser complexo e em evolução", refletiu.
Ela expressou um desejo final de paz e transformação: "Desejo que a alma dele se cure, que sua masculinidade tóxica tenha sido transformada. [...] Pai, descanse e que Deus te receba, com amor. E que a gente tenha a sorte de uma segunda chance". A mensagem foi acompanhada de duas fotos em que Lili aparece mais jovem ao lado do pai, em um contraste entre as memórias afetivas e a realidade brutal.
A trajetória de Lindomar Castilho permanece como um dos capítulos mais sombrios e emblemáticos da relação entre fama, queda e violência doméstica no Brasil, um legado dividido entre as canções que embalaram uma geração e o crime que chocou o país.