Mãe Carmen, ialorixá do Terreiro do Gantois, morre aos 98 anos em Salvador
Mãe Carmen, ialorixá do Gantois, morre aos 98 anos

A Bahia e a comunidade do candomblé estão de luto. Mãe Carmen, ialorixá do Terreiro do Gantois, em Salvador, faleceu na madrugada desta sexta-feira, 26 de abril, aos 98 anos. A líder religiosa estava internada havia duas semanas com uma forte gripe.

Uma vida dedicada ao sagrado e um legado histórico

Mãe Carmen era a filha mais nova da lendária Mãe Menininha do Gantois e assumiu a liderança do terreiro no ano de 2002. O Terreiro do Gantois é um dos mais antigos e importantes centros de candomblé do Brasil, carregando uma história secular e profunda relevância cultural e religiosa. Sua morte ocorreu em um dia simbólico: sexta-feira, dedicada ao orixá Oxalá, o criador do universo na mitologia iorubá.

Homenagens de amigos e filhos de santo ilustres

A partida da ialorixá mobilizou personalidades brasileiras que tinham nela uma amiga e mentora espiritual. A cantora Maria Bethânia, que foi iniciada no candomblé pela mãe de Mãe Carmen, Mãe Menininha, em 1981, expressou sua "profunda reverência". Em uma publicação nas redes sociais, ela compartilhou uma imagem onde a foto da ialorixá aparecia no telão durante um show seu com o irmão, Caetano Veloso.

A atriz e apresentadora Regina Casé, que considerava Mãe Carmen uma amiga pessoal, compartilhou diversos registros afetivos das duas juntas. "Como vai ser chegar na Bahia e não correr pra esse colo... Que vida longa, que vida linda, que vida plena!", escreveu em uma emocionada homenagem, destacando a dor no coração, mas a gratidão da alma por tantos anos de convivência.

Outras figuras como Gilberto Gil e Zeca Pagodinho também eram próximos da líder religiosa, retratando a ampla rede de afeto e respeito que ela construía.

O axé que permanece

A jornalista e atriz Maíra Azevedo, a Tia Má, também candomblecista, destacou a sintonia de Mãe Carmen com o sagrado até seu último momento. "Ela se despede como viveu: alinhada com o sagrado, no dia certo, no tempo certo. Fica o legado. Fica o ensinamento. Axé não se encerra com a morte. O amor que nos une é eterno!", afirmou em sua rede social.

A morte de Mãe Carmen marca o fim de uma era, mas reafirma a força e a permanência do legado espiritual e cultural que ela e suas antecessoras construíram no Terreiro do Gantois. Sua vida longa e plena deixa um rastro de sabedoria, fé e axé para todos os que frequentavam a casa e para a cultura brasileira como um todo.