Há seis dias, os moradores de um condomínio no bairro da Aclimação, região central de São Paulo, enfrentam uma situação de estresse e desconforto devido à falta de energia elétrica. O administrador do prédio, Carlos Ming, acumula 30 protocolos de atendimento da Enel desde a última quarta-feira (10), quando fortes ventos atingiram a capital, mas ainda não obteve uma solução definitiva para o problema.
Desgaste e indignação dos moradores
O condomínio é formado por duas torres, uma na rua Baturité e outra na Oliveira Peixoto, cada uma com aproximadamente 40 moradores. A unidade da rua Oliveira Peixoto é a que permanece no escuro desde o dia 10 de dezembro. A maioria dos residentes são idosos, que, segundo Ming, estão "nervosos, muito estressados" com a situação prolongada.
"Indignação é a palavra que define", afirma o administrador, que critica o atendimento automatizado da concessionária. "Só eu tenho 30 protocolos de atendimento da Enel, imagine os outros moradores. Eles falam que o prazo é voltar dali uma hora, mas não volta. Um atendimento todo feito por robôs."
Gerador alivia, mas não resolve o problema interno
O prédio possui um gerador próprio, que tem sido usado ininterruptamente para manter o funcionamento dos elevadores e das áreas comuns. No entanto, os apartamentos continuam sem qualquer fornecimento de energia. O equipamento, com capacidade para 200 litros de combustível, consome cinco litros por hora e precisa ser desligado periodicamente para evitar superaquecimento.
O barulho constante do gerador tem sido uma fonte adicional de conflito, irritando os moradores das ruas vizinhas. A situação, segundo Ming, "fugiu do controle". Muitos condôminos, sem condições de permanecer no local, tiveram que se mudar temporariamente para hotéis ou casas de familiares.
Tentativas frustradas e transformador "condenado"
A Enel enviou três equipes técnicas ao local: no sábado, no domingo e na manhã de segunda-feira. Contudo, nenhuma delas conseguiu restabelecer a energia. De acordo com o relato do administrador, os técnicos informaram que o transformador que abastece a rua está "condenado" e precisa ser substituído.
"É a terceira vez que vem uma equipe pequena com um caminhãozinho que não vai resolver", desabafa Ming. "Toda vez, eles dizem que já acionaram a empresa para mandar uma equipe maior, mas nunca vem." Ele teme que, com a previsão de chuva para os próximos dias e uma feira de alimentos marcada para a quarta-feira na rua do condomínio, o problema persista e a eventual solução seja ainda mais dificultada.
Vida em suspenso: rotina alterada e estresse generalizado
Luiz Manzo, empresário e morador do prédio há 13 anos, vive com a esposa e um filho no apartamento sem luz. Ele descreve uma rotina completamente alterada. "Estou super estressado, não temos nada na geladeira, sobrou meia dúzia de ovos", relata. "Minha sala é grande, está um calor insuportável. Todos os moradores estão de mau humor."
A família tem tomado banhos frios, carregado celulares e notebooks em tomadas do corredor e evitado comprar alimentos perecíveis. "Estragou tudo e o que não estragou, levei para a casa do meu irmão", conta. "Viver nessa situação há quase sete dias altera o humor e deixa todo mundo num estresse altíssimo."
Manzo critica a falta de transparência e de pessoal da Enel. "Não sei qual o critério a Enel usa para resolver problemas", questiona. "Solucionaram a falta de energia em alguns lugares, mas aqui não. Uma coisa é certa, eles não têm equipes suficientes."
O condomínio está entre os mais de 30 mil imóveis que ainda sofrem com a interrupção de energia em São Paulo, segundo o mapa da concessionária. O UOL tentou contato com a Enel para obter um posicionamento, mas não recebeu retorno até o momento.
O caso ocorre em um contexto de maior escrutínio sobre a concessionária. O Tribunal de Contas da União (TCU) abriu um processo que pode suspender a renovação do contrato da Enel em São Paulo, após uma representação do Ministério Público motivada pelo grande apagão recente. A empresa afirma ter restabelecido a energia para 99% dos clientes afetados pelo ciclone.