Maduro recebe prêmio 'Arquiteto da Paz' dias após Nobel da opositora
Maduro ganha medalha 'Arquiteto da Paz' após Nobel de Machado

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, foi condecorado com uma medalha que o intitula "Arquiteto da Paz" em uma cerimônia realizada na quarta-feira, 17 de dezembro de 2025. O evento, que marcou os 195 anos da morte de Simón Bolívar, aconteceu em Caracas e foi organizado por entidades alinhadas ao regime chavista.

Premiação controversa e contexto político

A láurea foi concedida pela Sociedade Bolivariana da Venezuela e pela Sociedade Bolivariana de Caracas, que aprovaram a decisão por unanimidade. As organizações descreveram Maduro como um "caraquenho exemplar" e "lutador". A condecoração ocorre poucos dias após a líder oposicionista María Corina Machado viajar a Oslo, na Noruega, para receber o Prêmio Nobel da Paz de 2025.

Durante a entrega da medalha, uma representante das entidades afirmou que o líder chavista seria responsável por garantir a paz não só na Venezuela, mas em toda a América Latina e no mundo. Em seu discurso, Maduro celebrou o reconhecimento, declarando em tom grandiloquente: "A paz será meu porto, minha glória e nossa vitória permanente".

Além do prêmio, Maduro foi nomeado presidente honorário da Sociedade Bolivariana da Venezuela, em reconhecimento à sua "entrega total ao país". Ele destacou que receber o título na sede histórica da entidade, próxima à casa onde nasceu Simón Bolívar, representava um "grande compromisso".

Cenário de tensão internacional com os Estados Unidos

A cerimônia de premiação acontece em um momento de grave escalada das tensões entre Caracas e Washington. Os Estados Unidos impuseram um bloqueio total a petroleiros que entrem ou saiam do território venezuelano. Em resposta, o governo da Venezuela classificou as ações americanas como uma "agressão em curso" e, com o apoio de China e Rússia, conseguiu a convocação de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, marcada para terça-feira, 23 de dezembro.

As hostilidades aumentaram no final de outubro, quando o ex-presidente dos EUA, Donald Trump

Os EUA acusam Maduro de liderar o Cartel de los Soles – designado como organização terrorista estrangeira em novembro – e oferecem uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à sua captura. Ataques a barcos considerados terroristas pelo governo americano no Caribe e no Pacífico já resultaram na morte de pelo menos 83 tripulantes.

Mobilização militar e críticas internas nos EUA

Há poucas semanas, altos oficiais militares americanos apresentaram a Trump planos atualizados de operações contra a Venezuela, que incluíam ataques por terra. Essa movimentação ocorre paralelamente a uma crescente mobilização militar dos EUA na América Latina, com o envio para o Caribe de:

  • Um porta-aviões
  • Destróieres com mísseis guiados
  • Caças F-35
  • Um submarino nuclear
  • Cerca de 6.500 soldados

Essas ações têm sido criticadas por juristas e legisladores democratas, que as denunciam como violações do direito internacional e "execuções extrajudiciais", conforme definição da ONU. Trump, no entanto, defende a legalidade dos ataques, argumentando que os EUA já estão em guerra com grupos narcoterroristas da Venezuela.

Dados das Nações Unidas, contudo, enfraquecem a justificativa de combate às drogas. O Relatório Mundial sobre Drogas de 2025 indica que o fentanil – principal responsável pelas overdoses nos EUA – tem origem no México, e não na Venezuela. O documento também aponta que a cocaína consumida nos Estados Unidos vem majoritariamente da Colômbia, Bolívia e Peru.

Uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada em 14 de dezembro revela que apenas 29% dos americanos apoiam o uso das Forças Armadas para matar suspeitos de narcotráfico sem devido processo judicial. O apoio é maior entre republicanos (58%), mas 27% deles se opõem à prática. No Partido Democrata, cerca de 75% dos eleitores são contra as operações.