O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu homólogo argentino, Javier Milei, travaram um embate público sobre a crise venezuelana durante a reunião de cúpula do Mercosul, realizada em Foz do Iguaçu, no Paraná, no sábado, 20 de dezembro de 2025. Os líderes apresentaram visões diametralmente opostas sobre a pressão política, econômica e militar exercida pelos Estados Unidos contra o governo de Nicolás Maduro.
Posições antagônicas em um mesmo palco
De um lado, o presidente brasileiro fez um alerta contundente. Lula afirmou que uma intervenção armada norte-americana na Venezuela seria uma "catástrofe humanitária" para o hemisfério e criaria um "precedente perigoso para o mundo". Ele evocou o fantasma da Guerra das Malvinas ao declarar que, após mais de quatro décadas, a América do Sul volta a ser "assombrada pela presença militar de uma potência extrarregional", numa clara referência aos Estados Unidos.
Do outro lado, o presidente argentino, Javier Milei, defendeu abertamente a postura do governo de Donald Trump. Milei saudou a pressão dos EUA, argumentando que ela busca "libertar" o povo venezuelano de uma crise política, humanitária e social devastadora. Em seu discurso, Milei chamou Nicolás Maduro de "narcoterrorista" e descreveu seu governo como uma "ditadura atroz e desumana", declarando apoio explícito a um eventual envio militar norte-americano.
O cerco de Trump se intensifica
O pano de fundo do debate é a escalada das ações dos Estados Unidos. O presidente Donald Trump não descartou uma intervenção militar e, na terça-feira, 16 de dezembro, afirmou que a Venezuela está completamente cercada "pela maior Armada já reunida na história da América do Sul". Washington justifica o cerco, que inclui bloqueio a petroleiros e operações navais no Caribe e Pacífico, como uma medida para combater o narcotráfico associado a grupos criminosos ligados à Venezuela.
Trump também determinou um bloqueio total a petroleiros alvos de sanções e, em redes sociais, acusou venezuelanos de roubarem petróleo e terras de norte-americanos. O governo americano descreve Maduro como líder de um regime corrupto e alega agir por questões de segurança regional.
Diplomacia versus confronto: Lula busca diálogo
Em meio à tensão, Lula revelou que pretende conversar com Donald Trump antes do Natal para tentar evitar um conflito armado na região. "Não queremos guerra no nosso continente", afirmou o presidente brasileiro, expressando preocupação com as ameaças diárias veiculadas na imprensa.
Lula reiterou seu compromisso com a via diplomática, citando conversas recentes com ambos os lados. Ele disse ter falado por quase 40 minutos com Maduro e, posteriormente, com Trump. O argumento central do brasileiro para o presidente dos EUA foi o de que "conversar é mais barato do que fazer guerra". "Se a gente acreditar no poder do argumento, da palavra, a gente evita muita confusão na vida dos países", relatou Lula sobre o teor do diálogo.
A cúpula do Mercosul evidenciou as profundas divisões ideológicas na região. Ao lado de Lula, esteve o presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, representando a esquerda. No campo da direita, além de Milei, estavam presentes os presidentes do Panamá, José Raúl Mulino, e do Paraguai, Santiago Peña. O encontro em Foz do Iguaçu mostrou que, enquanto uns veem a ação externa como uma ameaça à soberania e à paz, outros a enxergam como uma ferramenta necessária para a mudança de regime em um país em colapso.