Ex-funcionários de Trump concorrem ao Congresso para barrar agenda trumpista
Ex-funcionários federais de Trump entram na corrida pelo Congresso

Um movimento político inédito está se formando nos Estados Unidos em reação à gestão do presidente Donald Trump. Milhares de ex-funcionários federais que deixaram seus cargos após a posse do republicano agora decidiram enfrentá-lo diretamente no campo eleitoral, candidatando-se ao Congresso pelo Partido Democrata.

O objetivo declarado é usar a experiência adquirida dentro do governo para, agora do lado de fora, barrar a agenda política de Trump a partir do legislativo. Eles miram as eleições de meio de mandato (midterms) de 2026, que renovarão centenas de assentos na Câmara e no Senado.

Do serviço público às urnas: a motivação dos candidatos

A onda de candidaturas tem duas origens principais. A primeira é a demissão em massa executada pelo DOGE (Departamento de Eficiência Governamental), força-tarefa que reduziu o efetivo federal de 2,4 milhões para apenas 317 mil funcionários. A segunda é a renúncia voluntária por indignação com as políticas implementadas por Trump.

Entre os nomes que trocaram a carreira pública pela disputa política está Ryan Crosswell, 45 anos, ex-promotor do Departamento de Justiça. Ele pediu demissão após o arquivamento das acusações de corrupção contra o prefeito de Nova York, Eric Adams, em um acordo que visava garantir a cooperação do prefeito com as políticas migratórias de Trump. "Entendi que não podia ficar parado enquanto Trump atropelava o governo", disse Crosswell, que agora leva sua carta de renúncia a comícios como símbolo de sua campanha.

A cientista climática Megan O'Rourke, que supervisionava bolsas para agricultura sustentável no Departamento de Agricultura, também renunciou após cortes em programas de financiamento ligados ao clima. Ela agora é candidata democrata pelo 7º distrito de Nova Jersey.

FBI, procuradores e a luta contra a "instrumentalização"

Outro caso emblemático é o de John Sullivan, 41 anos, agente do FBI por quase 17 anos. Sullivan deixou a agência em protesto contra o que chamou de instrumentalização política durante o governo Trump. A gota d'água, segundo ele, foi a anistia concedida pelo presidente a mais de 1.500 pessoas envolvidas na invasão ao Capitólio em 2021. "Eu só sabia que não podia ficar lá e fazer parte disso", declarou o ex-agente, que integrou a equipe que identificou os invasores.

A lista de candidatos inclui ainda o ex-procurador assistente Zach Dembo, que temia ser forçado a violar a lei, e Bayly Winder, ex-funcionário da Agência para o Desenvolvimento Internacional. Muitos trabalharam no primeiro mandato de Trump (2016-2020) e afirmam que a grande diferença agora é a falta de hesitação do presidente em romper com normas políticas tradicionais.

Desafios e oportunidades nas eleições de 2026

Apesar da motivação, o caminho até o Congresso não será fácil. Nenhum dos cinco candidatos citados é considerado favorito. O'Rourke, Crosswell e Sullivan precisam primeiro vencer primárias dentro do Partido Democrata antes de enfrentar os republicanos. No entanto, eles disputam em distritos considerados decisivos e com adversários vulneráveis.

Já Winder e Dembo concorrem em distritos de tendência conservadora, historicamente difíceis para os democratas. Mesmo assim, eles abraçam a condição de outsiders. "Nunca estive na política antes, mas já atuei no serviço público", afirmou Winder em um recente comício.

O cenário político atual dá um fio de esperança aos democratas. O Partido Republicano tem maioria, mas os democratas estão a apenas três cadeiras de virar o jogo no Congresso. Uma mudança no controle permitiria bloquear uma série de medidas apoiadas pela liderança republicana e pelo próprio Trump.

As eleições de 2026, portanto, se configuram não apenas como um pleito regular, mas como um campo de batalha onde ex-integrantes do governo usarão seu conhecimento interno em uma tentativa de redirecionar os rumos do país, transformando sua experiência burocrática em capital político.