Os Estados Unidos tomaram uma medida inédita em meio à crise eleitoral em Honduras. Nesta sexta-feira (19), o governo norte-americano anunciou a negação do visto de Marlon Ochoa, secretário do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país centro-americano.
Justificativa da medida e crise na apuração
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, foi o responsável pelo comunicado oficial. Segundo ele, a decisão foi tomada diretamente por conta da demora excessiva na apuração dos resultados da eleição presidencial realizada em 30 de novembro. Quase três semanas após o pleito, ainda não há um vencedor oficial declarado.
"O Departamento negou o pedido de visto de Marlon Ochoa e tomou medidas para impor restrições de visto a outro indivíduo por minar a democracia em Honduras", afirmou Rubio. As eleições têm sido marcadas por um processo caótico, com falhas na contagem de votos, acusações de fraude e até alegações de interferência externa.
Acusações de fraude e politização do processo
O cenário de desconfiança é amplo. No início de dezembro, o presidente do Congresso Nacional de Honduras, Luis Redondo, já havia declarado que não validaria o resultado. Ele afirmou que o processo foi "manchado por pressões internas de estruturas do crime organizado ligadas ao narcotráfico, pressões externas e pela violação direta da liberdade dos eleitores".
A própria presidente do país, Xiomara Castro, denunciou um "golpe eleitoral". Em sua primeira declaração pós-votação, ela disse: "Vivemos um processo marcado por ameaças, coação, manipulação do Trep [sistema de resultados preliminares] e adulteração da vontade popular". Os candidatos rivais Salvador Nasralla e Rixi Moncada também levantaram suspeitas de manipulação.
As suspeitas são alimentadas por sucessivas falhas de informática que afetaram a apuração, responsabilidade da empresa colombiana ASD. Além disso, o próprio CNE é visto como politizado, pois seu plenário é formado por representantes dos três principais partidos do país.
Resultados parciais e contexto internacional
Até a última contagem registrada, com 99,4% das atas apuradas, o candidato Nasry Asfura, que conta com o apoio público do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mantinha uma estreita liderança. Ele somava 40,52% dos votos, contra 39,20% de Salvador Nasralla.
A decisão dos EUA de negar o visto ocorre em um contexto delicado. Recentemente, o ex-presidente hondurenho, Juan Orlando Hernández, condenado por tráfico de drogas, deixou a prisão nos EUA após receber um perdão de Donald Trump, em meio ao impasse eleitoral em seu país de origem.
A medida contra Marlon Ochoa sinaliza uma pressão internacional concreta para que as autoridades hondurenhas concluam o processo eleitoral com transparência e celeridade, restaurando a confiança na democracia local.