Há 16 anos, um encontro diplomático na cidade russa de Yekaterinburg marcou o nascimento de um novo ator nas relações internacionais. Os líderes do Brasil, Rússia, Índia e China se reuniram naquela cúpula de 2009 e decidiram formalizar sua cooperação, criando o BRICs, uma organização intergovernamental que unia economias emergentes de grande porte.
Da reunião fundadora à expansão do grupo
O resultado direto daquele encontro histórico foi a formação de um bloco que buscava ampliar a voz das nações em desenvolvimento no cenário geopolítico. A sigla, formada pelas iniciais dos quatro países, rapidamente se tornou um conceito familiar em discussões sobre economia e política global. A ideia central era promover uma cooperação multilateral em áreas como comércio, investimento e desenvolvimento.
Com o passar dos anos, o grupo evoluiu. A inclusão da África do Sul, transformando o BRICs em BRICS, foi apenas o primeiro passo. Recentemente, a organização passou por uma significativa expansão, incorporando novas nações e adotando a nomenclatura BRICS+. Esta ampliação reflete sua ambição de crescer em influência e representatividade, agregando diferentes perspectivas de várias regiões do mundo.
Funcionamento e objetivos do BRICS+
Mas como funciona, na prática, essa organização? O BRICS+ opera principalmente através de cúpulas anuais de chefes de Estado e de governo, onde são definidas as diretrizes estratégicas. Além disso, há reuniões frequentes de ministros de áreas como finanças, comércio exterior e relações exteriores. Um dos pilares do grupo é o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), com sede em Xangai, criado para financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos países-membros e em outras economias emergentes.
Os objetivos declarados incluem:
- Fortalecer a cooperação econômica e política.
- Promover a reforma das instituições financeiras internacionais para dar mais voz aos países em desenvolvimento.
- Estimular o comércio e os investimentos usando moedas locais, reduzindo a dependência do dólar.
- Coordenar posições em temas globais como mudança climática e segurança energética.
Uma ameaça real à ordem estabelecida?
A transformação e o crescimento do BRICS+ levantam um debate intenso entre analistas internacionais. Para alguns, o grupo representa um contraponto significativo à ordem mundial liderada pelos Estados Unidos e seus aliados tradicionais. A capacidade de agregar nações populosas e com economias em crescimento confere ao bloco um peso demográfico, econômico e político inegável.
A perspectiva de que o BRICS+ possa se tornar uma alternativa institucional ao G7 ou uma plataforma para desafiar a hegemonia do dólar é o que alimenta a visão de que ele é uma "ameaça" à estrutura de poder vigente. No entanto, outros especialistas apontam para as diferenças políticas e econômicas internas entre os membros, que podem dificultar uma ação conjunta coesa em todas as frentes. A organização é vista mais como um fórum para coordenação de interesses comuns do que como uma aliança militar ou ideológica monolítica.
O contexto geopolítico atual, com tensões como a acusação da Rússia contra os EUA de "pirataria" por conta do bloqueio de ativos venezuelanos, ilustra o tipo de disputa na qual os membros do BRICS+ frequentemente assumem lados opostos aos das potências ocidentais. Este posicionamento reforça a imagem do grupo como um polo de atração para nações que buscam um mundo multipolar.
Passados 16 anos desde sua fundação em Yekaterinburg, o BRICS+ se consolidou como um fato inegável na geopolitica global. Se representa uma ameaça direta ou apenas uma reconfiguração natural do poder internacional, o tempo dirá. O que é certo é que sua trajetória de expansão e sua agenda de reforma das instituições globais garantem que ele continuará no centro dos debates sobre o futuro da ordem mundial.