Acordo UE-Mercosul é adiado: frustração em Foz do Iguaçu e nova data em 2026
Adiamento do acordo UE-Mercosul frustra cúpula em Foz do Iguaçu

A expectativa de um marco histórico nas relações entre a América do Sul e a Europa se dissipou nesta quinta-feira (18), gerando um clima de frustração e anticlímax em Foz do Iguaçu, no Paraná. A União Europeia decidiu adiar a assinatura do acordo comercial com o Mercosul, que estava programada para ocorrer no próximo sábado (20), durante a cúpula do bloco sul-americano na cidade fronteiriça.

Frustração nos corredores e uma pausa para digerir a notícia

Diplomatas do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai já estavam reunidos na cidade para os preparativos finais do encontro de chefes de Estado quando a confirmação do adiamento chegou. O impacto foi tão significativo que, em uma das reuniões preparatórias, chegou a ser sugerida uma pausa de alguns minutos para que os participantes pudessem processar a informação. Apesar do fluxo intenso de diplomatas conversando nos corredores, os trabalhos foram retomados.

Para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a notícia foi especialmente desagradável. O Brasil está na presidência rotativa do Mercosul e transmitirá o cargo ao Paraguai no próximo ano. A assinatura do tratado, negociado há mais de 25 anos, seria uma conquista internacional de peso para Lula, especialmente em um ano de campanha eleitoral.

Pressão europeia e o pedido de tempo de Meloni e Macron

Nos bastidores, membros do governo brasileiro atribuem o novo impasse à incapacidade de articulação política dentro do bloco europeu. Os dias que antecederam a cúpula foram marcados por tensas negociações na Europa. A França, pressionada por seus agricultores, lidera a oposição ao acordo e conseguiu o apoio da Itália às vésperas da decisão final no Conselho Europeu.

Uma conversa telefônica entre Lula e a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, foi decisiva para o adiamento. De acordo com relatos de Brasília, Meloni pediu um mês para tentar convencer os agricultores italianos a aceitarem o pacto. Lula concordou em levar o pedido de postergação aos outros presidentes do Mercosul.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também conversou com o presidente francês, Emmanuel Macron, e defendeu dar mais tempo aos europeus. Horas depois desses contatos, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comunicou oficialmente o adiamento. Tanto ela quanto o presidente do Conselho Europeu, António Costa, cancelaram suas viagens para Foz do Iguaçu.

Salvaguardas, paciência e uma janela para 2026

Apesar da decepção, auxiliares de Lula evitam caracterizar a situação como um desastre completo. Eles argumentam que a porta para a assinatura permanece aberta, agora com expectativa voltada para janeiro de 2026. Para não colocar o acordo em risco, o Mercosul adotou uma postura paciente diante de novos entraves.

O bloco sul-americano evitou reagir publicamente às chamadas cláusulas de salvaguarda aprovadas pelos europeus, mesmo considerando-as desfavoráveis. Essas regras preveem, por exemplo, a abertura de investigação se houver uma queda de mais de 8% nos preços de produtos sensíveis como carne bovina e açúcar vindos do Mercosul, ou um aumento no volume de importações superior a 8% em relação à média de três anos.

Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, um eventual pacote de salvaguardas por parte do Mercosul só seria discutido após a assinatura do tratado. O adiamento, portanto, empurra esses conflitos potenciais para o futuro.

Especialistas, no entanto, veem o cenário com preocupação. Marcos Troyjo, que participou das negociações do texto-base em 2019, avalia que as chances do acordo diminuíram. Ele considera que a postergação é uma grande derrota para a própria União Europeia, que se vê "ensanduichada" na competição global entre Estados Unidos e China, mas não consegue fechar uma parceria estratégica com o Mercosul.