Acordo UE-Mercosul é adiado para janeiro após 25 anos de negociação
Acordo UE-Mercosul adiado para janeiro, diz agência

A tão esperada assinatura do acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul sofreu um novo revés e foi adiada para janeiro de 2026. A informação foi confirmada pela Agência France-Presse (AFP) nesta quinta-feira, 18 de dezembro, com base em diplomatas europeus. A nova data contraria a expectativa de que o tratado histórico fosse rubricado já no próximo sábado, dia 20.

Pressão europeia e resistência de França e Itália

O anúncio do adiamento ocorre em um contexto de forte pressão política dentro do bloco europeu. O presidente da França, Emmanuel Macron, alertou que não apoiaria o pacto sem salvaguardas mais robustas para proteger os agricultores de seu país. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, também se mostrou reticente, classificando uma assinatura imediata como "prematura".

Em um último esforço para destravar o processo, o Parlamento Europeu, a Comissão Europeia e os países-membros chegaram a um acordo preliminar na quarta-feira (17) sobre mecanismos de proteção. O texto prevê que tarifas eliminadas pelo acordo poderão ser reimpostas se as importações de carne da América Latina desestabilizarem os mercados europeus.

Cláusula polêmica e divisão no bloco

No entanto, uma questão mais profunda permanece sem solução. O Parlamento Europeu buscava incluir uma cláusula de "obrigação de reciprocidade", que exigiria que os países do Mercosul seguissem as rigorosas normas de produção de alimentos da UE em troca do acesso ao mercado. Nações favoráveis ao acordo, como Alemanha e Espanha, barraram essa exigência, considerando-a um obstáculo intransponível.

Diante do impasse, Macron e Meloni defenderam que a votação final dos Estados-membros da UE sobre o pacto fosse adiada, o que acabou se concretizando. As negociações para este que seria o maior acordo comercial já firmado pela UE se estendem por 25 anos.

Ultimato do Brasil e risco de colapso

Do lado sul-americano, a paciência se esgota. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um alerta contundente na quarta-feira, afirmando que não assinará mais o acordo se ele não for finalizado ainda em dezembro. "Se não fizermos isso agora, o Brasil não fará mais este acordo enquanto eu for presidente", declarou Lula, segundo a agência Reuters.

O presidente brasileiro foi enfático ao dizer que o país já cedeu tudo o que era possível pela via diplomática. O novo atraso, portanto, pode ser fatal para um tratado que já enfrentou décadas de idas e vindas. O cenário atual coloca em risco um marco nas relações econômicas entre os dois blocos, em um momento de grande expectativa e também de forte oposição de setores agrícolas europeus, que recentemente protestaram nas ruas de Bruxelas.