O Corinthians escreveu um dos capítulos mais improváveis e heroicos de sua história em 2025. Enquanto fora dos campos o clube afundava em uma crise institucional profunda, com dívidas bilionárias, um presidente afastado por impeachment e investigações policiais, dentro das quatro linhas o Timão ergueu a taça de tetracampeão da Copa do Brasil. A vitória sobre o Vasco no Maracanã coroou uma temporada de superação e isolou o futebol do caos administrativo, garantindo ao time paulista o melhor desempenho esportivo do estado.
O cenário de caos fora dos gramados
O ano de 2025 foi marcado por páginas policiais no Parque São Jorge. A investigação sobre o contrato de patrocínio com a Vai de Bet, que prometia ser o maior da história do futebol brasileiro, transformou a sede do clube em alvo de buscas e apreensões. As autoridades buscavam provas de lavagem de dinheiro e repasses para empresas de fachada.
O desgaste foi imenso, com ex-dirigentes e membros da cúpula prestando depoimentos à Polícia Civil. A Justiça acabou aceitando a denúncia que tornou o ex-presidente Augusto Melo e outros ex-diretores réus por crimes de associação criminosa e lavagem de dinheiro. Paralelamente, o processo de impeachment de Melo avançava, baseado em denúncias de gestão temerária, culminando em sua saída em maio, em um momento descrito como o de maior baixa institucional do clube em décadas.
A tensão extrapolou os gabinetes e chegou à torcida. Em 3 de junho, a sede social foi invadida por torcedores organizados que exigiam mudanças estruturais, como voto para o Fiel Torcedor e reforma do estatuto, em um ápice de revolta popular.
A resiliência dentro de campo
Em contraste absoluto com o cenário externo, o futebol mostrou força. O primeiro sial veio ainda em fevereiro, com a conquista do Campeonato Paulista de 2025 sobre o Palmeiras. A atitude do atacante Memphis Depay, provocando os adversários, tornou-se símbolo da garra da equipe.
Porém, as competições de pontos corridos revelaram a instabilidade. O Corinthians lutou contra o rebaixamento no Brasileirão e teve campanhas frustrantes nas competições continentais, sendo eliminado por times como Barcelona-EQU e Huracán-ARG. Essa irregularidade fez da Copa do Brasil a obsessão e a última chance de salvar o ano esportivo.
O comprometimento do trio GYM e a mão de Dorival
A virada na Copa do Brasil teve dois pilares: a entrega extrema dos jogadores e a experiência do técnico. O trio ofensivo, batizado de GYM (Garro, Yuri Alberto e Memphis Depay), ignorou dores e lesões para se dedicar totalmente. Memphis, especialmente, cumpriu rigorosos cronogramas de recuperação em três turnos diários no CT.
Essa entrega teve resultado direto: dos 90 gols do Corinthians em 2025, 17 saíram de jogadas diretas entre pelo menos dois deles, incluindo o gol do título na final. No total, 18% dos gols da temporada tiveram participação direta do trio.
No comando técnico, Dorival Júnior, contratado após a saída de Ramón Díaz (mesmo com o título paulista), imprimiu sua identidade copeira. O treinador, que não era eliminado da Copa do Brasil desde 2016, venceu o torneio pela quarta vez na carreira, igualando Felipão como maior campeão da competição. Sua estreia pelo Timão foi justamente na vitória sobre o Novorizontino, na terceira fase da Copa.
Um título que redefine hierarquias
A conquista da Copa do Brasil fez mais do que quebrar um jejum de oito anos sem títulos nacionais. Ela colocou o Corinthians como a equipe paulista com o melhor desempenho esportivo de 2025, superando um Palmeiras que promoveu uma reformulação milionária em seu elenco mas terminou a temporada sem taças.
O contraste é histórico: enquanto o rival exibia saúde financeira, o Corinthians jogava sob transfer ban e pela sobrevivência institucional. O título atestou a resiliência de um grupo que soube isolar o futebol do caos, provando que a hierarquia no esporte nem sempre é ditada pelas cifras, mas pela garra e união dentro de campo.
