A comunidade de Rio Branco se prepara para um momento de despedida e homenagem neste sábado, 27 de janeiro. A missa de sétimo dia em memória de Moisés Ferreira Alencastro será realizada às 19h, na Catedral Nossa Senhora de Nazaré, no centro da capital acreana. A solenidade, aberta ao público, deve reunir familiares, amigos, representantes do meio cultural, do serviço público e da sociedade civil.
Uma vida dedicada à cultura e aos direitos humanos
Moisés Alencastro, de 59 anos, era uma figura multifacetada e de grande relevância no Acre. Atuava como ativista cultural, colunista social, advogado e servidor do Ministério Público do Estado do Acre (MP-AC) desde 2006. Sua trajetória foi marcada por uma luta incansável pela diversidade e pelos direitos humanos, especialmente da população LGBTQIA+.
Idealizador do Festival Transamazônico, Moisés foi fundamental para dar visibilidade e protagonismo a artistas trans, fortalecendo a cena cultural e audiovisual da região amazônica. Também teve participação ativa no Conselho Estadual de Cultura e deixou contribuições significativas para o colunismo social e o jornalismo cultural acreano.
O crime e as investigações
Moisés Alencastro foi encontrado morto no dia 22 de dezembro, vítima de um crime brutal. A Polícia Civil do Acre iniciou as investigações imediatamente, e o caso tomou novos rumos na última quinta-feira, 25 de janeiro, com a prisão de dois suspeitos.
O principal suspeito, identificado como Antônio de Sousa Morais, de 22 anos, foi preso pela manhã. Horas depois, foi a vez de Nataniel Oliveira de Lima, de 23 anos, ser detido. As prisões foram realizadas na capital, Rio Branco.
De acordo com o delegado Alcino Júnior, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), as investigações avançaram a partir da análise do local do crime, de provas periciais e de diligências. Inicialmente considerado um possível latrocínio (roubo seguido de morte), o caso passou a ser visto sob outra perspectiva.
Não havia sinais de arrombamento no apartamento da vítima, o que levou os investigadores a acreditar que os suspeitos entraram no local de forma consensual, possivelmente conhecidos de Moisés. Após o homicídio, teriam subtraído bens, caracterizando um homicídio qualificado seguido de furto.
A vítima foi morta com mais de cinco golpes de faca na noite do domingo, 21 de dezembro. O carro de Moisés foi localizado posteriormente na Estrada do Quixadá, com um pneu estourado.
Comoção e legado
A morte de Moisés Alencastro gerou profunda comoção no Acre e repercutiu nacionalmente. O corpo foi velado na capela do Cemitério Morada da Paz no dia 23 de dezembro e sepultado no dia seguinte.
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), por meio da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, emitiu uma nota de pesar, destacando o legado "incalculável" de Moisés para a cultura do estado e sua defesa dos direitos humanos. A nota também reforçou a urgência no enfrentamento à violência, ao ódio e às discriminações.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva
A Associação dos Colunistas Sociais do Acre (Acos), da qual Moisés era um dos fundadores, também se manifestou. Em nota, a presidente Jackie Pinheiro descreveu a perda como a de um irmão, destacando sua luz, alegria e paixão pela vida e pelos amigos.
A procuradora de Justiça Patrícia Rego, chefe de Moisés no Centro de Atendimento à Vítima (CAV), onde ele trabalhava ajudando outras pessoas, fez um emocionado relato. Ela afirmou que seu amigo, que era homossexual, sofreu uma violência cujo pano de fundo é a homofobia, uma violência estrutural que precisa ser combatida.
A missa deste sábado representa mais uma oportunidade para que a sociedade acreana celebre a vida e honre a memória de Moisés Alencastro, cuja ausência deixa um vazio, mas cujo legado de luta e amor à cultura permanece vivo.