A temporada de verão no litoral paulista começou com um crime que mostra uma nova e preocupante fronteira para a violência urbana: o assalto em alto mar. Na Praia dos Milionários, em São Vicente, um casal que estreava um caiaque novo foi vítima de um roubo de alianças executado por dois criminosos em um jetski. O episódio ocorreu no dia 22 de dezembro de 2025, primeiro dia oficial da estação mais quente do ano.
O assalto dentro do caiaque
A vítima, um casal que aproveitava um dia de sol, foi abordada enquanto remava nas águas calmas da praia. Os assaltantes, que não estavam armados, se aproximaram com o jetski e realizaram uma manobra brusca, uma espécie de derrapada proposital. A ação fez com que água invadisse a embarcação pequena, deixando-a instável, e os remos caíssem no mar.
Os criminosos então exigiram as alianças de ouro do casal. Diante da recusa, os bandidos recolheram os remos da água e passaram a usá-los como armas, agredindo o homem na cabeça e nas pernas. Após a violência, conseguiram tomar as joias, avaliadas em aproximadamente 15 mil reais, e fugiram rapidamente com o jetski.
O casal, ainda em estado de choque, conseguiu chegar até a areia. O homem apresentava tonteira devido aos golpes. Decepcionados e assustados, eles registraram um boletim de ocorrência e relataram a total falta de policiamento visível na área marítima no momento do crime.
Operação Verão e o desafio da segurança
O roubo ocorreu em um momento emblemático: apenas um dia após o Governo do Estado de São Paulo dar início à Operação Verão Integrada. Trata-se de uma ação inédita e intersetorial, anunciada com grande destaque pelo governador Tarcísio de Freitas, para reforçar serviços no litoral durante o pico turístico.
Em coletiva, o governador destacou o caráter histórico da operação: “Esta é a maior Operação Verão da história. Vamos ter 4 mil homens a mais, 435 viaturas, helicópteros, jet skis, motocicletas, bicicletas e drones”. Ele também mencionou uma delegacia volante, mais equipamentos para bombeiros e guarda-vidas, e a ampliação do sistema de monitoramento Muralha Paulista, com 1.700 câmeras.
Do efetivo total anunciado, 800 policiais foram destinados especificamente para o município de São Vicente. Apesar dos números robustos, o crime sofrido pelo casal no caiaque expõe uma realidade complexa. A segurança em regiões turísticas não depende apenas do aumento de efetivo em terra, mas de um planejamento estratégico que antecipe e combata modalidades criminosas que se reinventam, como esta que migrou das ruas para o mar.
A epidemia do roubo de alianças
O caso não é isolado e reflete uma tendência nacional impulsionada pelo alto valor do ouro no mercado. Na capital paulista, os registros de roubo de alianças cresceram 69% no primeiro semestre de 2025, tornando-se um crime comum no cenário urbano. Agora, a prática desceu a Serra do Mar e encontrou um novo palco: as águas frequentadas por turistas e banhistas.
A tática usada em São Vicente – abordagem por meio de embarcações rápidas, criação de uma situação de desequilíbrio e agressão para subtrair joias – revela uma adaptação do crime ao ambiente litorâneo. O episódio serve como um alerta para as autoridades e para a população de que a criminalidade pode explorar brechas geográficas e operacionais, exigindo respostas igualmente dinâmicas e específicas.
O verão paulista, portanto, começa com um desafio claro: como proteger os cidadãos não apenas nas areias das praias e nas avenidas, mas também no mar, onde a sensação de tranquilidade pode ser tão ilusória quanto passageira.