Trânsito brasileiro em crise: mortes batem recorde pelo 5º ano seguido
Mortes no trânsito batem recorde pelo 5º ano seguido

O trânsito do Brasil vive uma situação de emergência, com um aumento constante e alarmante no número de fatalidades. Pelo quinto ano consecutivo, desde 2019, o país registra mais mortes nas estradas e ruas, configurando uma crise de segurança viária que exige ação imediata.

Os números de uma tragédia nacional

Dados preliminares do Ministério da Saúde revelam que, apenas em 2024, 36.403 pessoas perderam a vida em acidentes de trânsito. A taxa nacional atingiu a marca de 17,1 mortes para cada 100 mil habitantes. Para se ter uma ideia da gravidade, esse índice é oito vezes superior ao da Suécia, país referência em segurança no trânsito, e quase o dobro da taxa registrada na Argentina.

Essa trajetória ascendente evidencia um fracasso coletivo. A dimensão da tragédia é tão grande que equivale à queda de um avião cheio de passageiros a cada dia, um fato que, se ocorresse, geraria enorme comoção, mas que passa em relativa invisibilidade quando acontece no asfalto.

Motociclistas: as maiores vítimas de uma epidemia silenciosa

Os ocupantes de motocicletas formam o grupo mais vulnerável e que mais sofre com a violência no trânsito. Em 2024, eles representaram 41% do total de vítimas fatais, com 14.994 mortes. Esse número significa um aumento superior a 10% em relação a 2023 e estabelece um novo recorde na série histórica.

Com uma frota de aproximadamente 35 milhões de motocicletas registradas, o Brasil enfrenta uma epidemia crescente. A estatística é cruel: para cada 10 mil motos em circulação, mais de 4 motociclistas morrem por ano. Muitos são entregadores, mototaxistas e trabalhadores que encontraram na moto uma solução econômica para a mobilidade, mas não um meio de transporte seguro.

Velocidade: o fator de risco mais letal e negligenciado

A velocidade excessiva permanece como o principal fator de risco para mortes no trânsito e, paradoxalmente, é um dos mais negligenciados. Estudos comprovam que uma redução de apenas 5% na velocidade média pode levar a uma queda de 30% nas fatalidades.

Cidades como Fortaleza e São Paulo já demonstraram na prática que políticas de gestão de velocidade funcionam. Ao readequar limites, intensificar a fiscalização e redesenhar vias pensando nas pessoas e não apenas nos veículos, essas capitais conseguiram salvar centenas de vidas. No entanto, em nível nacional, o país parece caminhar na contramão, priorizando debates sobre fluidez do tráfego enquanto ignora que o trânsito é, antes de tudo, feito de pessoas.

Impactos sociais e econômicos devastadores

As consequências dos acidentes vão muito além das vidas perdidas. Segundo o Banco Mundial, os sinistros de trânsito custam à sociedade brasileira até R$ 320 bilhões anualmente. Esse valor é superior ao orçamento total do Ministério da Saúde para 2025, estimado em R$ 245 bilhões.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que, para cada morte no trânsito, há entre 20 e 50 pessoas feridas. Essa multidão de feridos sobrecarrega leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Sistema Único de Saúde (SUS), que poderiam estar atendendo vítimas de AVC, infecções graves e outras doenças. Os custos recaem sobre o SUS, a previdência social e, principalmente, sobre a renda das famílias das vítimas, perpetuando ciclos de pobreza e ampliando desigualdades sociais e raciais.

Caminhos para um trânsito mais seguro

Especialistas são enfáticos ao afirmar que um sistema de mobilidade só é sustentável se for seguro para todos. É fundamental fortalecer e tornar mais atrativo o transporte coletivo. Na ausência de opções eficientes de ônibus, trens e metrô, milhões de brasileiros continuarão sendo empurrados para soluções de alto risco, como a motocicleta.

A evidência técnica e científica sobre o que reduz mortes no trânsito é clara e contundente. O que falta ao Brasil, segundo análise de especialistas como Dante Rosado, engenheiro civil e coordenador de segurança viária, é conscientização e ação concreta por parte de governantes e legisladores. Enfrentar o debate sobre a gestão de velocidades seguras em todo o território nacional é uma das pautas mais urgentes para reverter essa triste estatística e salvar milhares de vidas todos os anos.