O primeiro lançamento orbital a partir do território brasileiro terminou em falha nesta segunda-feira (22). O foguete Hanbit-Nano, da empresa sul-coreana Innospace, sofreu uma anomalia durante o voo, pouco menos de dois minutos após decolar do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão.
O momento da falha no voo histórico
A decolagem ocorreu às 22h13, marcando o início da chamada Operação Spaceward, uma parceria entre a Innospace e a Força Aérea Brasileira (FAB). A transmissão ao vivo mostrou os momentos iniciais do voo, incluindo a superação da velocidade do som e o instante de máxima pressão aerodinâmica. No entanto, a imagem foi cortada para a sala de controle, onde surgiu a informação da anomalia.
O veículo foi perdido e a transmissão interrompida logo após a falha, que aconteceu ainda na fase propulsada do primeiro estágio do foguete. Com isso, os cinco nanossatélites brasileiros e os três experimentos que compunham a carga útil foram perdidos.
Antecedentes e importância de Alcântara
Este foi o primeiro teste em voo do Hanbit-Nano, um lançador de dois estágios com 21 metros de comprimento. Seu primeiro estágio usa um motor híbrido (parafina e oxigênio líquido), e o segundo, um motor a metano e oxigênio líquidos. A falha prematura impediu até mesmo o teste do segundo estágio em condições reais.
Apesar do resultado, especialistas destacam que contratempos são comuns no desenvolvimento de novos lançadores. A própria Innospace já havia realizado um teste bem-sucedido em Alcântara em março de 2023, com o protótipo suborbital Hanbit-TLV, que validou tecnologias para o primeiro estágio do Hanbit-Nano.
O CLA oferece uma vantagem estratégica por estar a apenas 2,3 graus ao sul da Linha do Equador. A rotação mais rápida da Terra nessa região funciona como um "impulso extra", permitindo que os foguetes economizem combustível para atingir a velocidade orbital de cerca de 27 mil km/h.
Adiamentos e próximos passos
A missão, originalmente agendada para quinta-feira (17), foi adiada várias vezes devido a uma série de problemas, que incluíram:
- Falta de fornecimento de energia na plataforma.
- Problema em uma das válvulas do foguete.
- Más condições meteorológicas.
Nesta segunda, uma chuva à tarde atrasou as operações, que só foram concluídas no fim da noite, com a ereção do foguete na plataforma e os procedimentos de abastecimento e checagem.
A Innospace foi a primeira empresa a obter licença e chegar a um estágio operacional de lançamento em Alcântara. Agora, os engenheiros da empresa vão analisar os dados coletados durante o voo para identificar as causas do problema e preparar uma nova tentativa, ainda sem data definida.
Esta falha se soma a outras três tentativas fracassadas do programa nacional VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites), realizadas em 1997, 1999 e 2003, reforçando os desafios tecnológicos do acesso ao espaço.